Henri Henri
Crítica
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Sinopse
Órfão esquecido por todos, tímido e retraído, Henri preserva os lustres e luminárias do convento onde vive desde a sua infância. Forçado um dia a sair dos muros protetores da instituição, o jovem entra logo num universo estranho para ele. Impulsionado por uma inocência cândida, ele tentará tirar da escuridão aquelas pessoas que, como ele, estão isoladas. Especialmente, tentará reavivar a chama no coração de Hélène, a bela moça que trabalha como caixa e que vive num mundo escuro e sem luz e por quem nutre uma paixão secreta.
Crítica
Desde o lançamento de seu primeiro trabalho, em meados da década de 1990, Wes Anderson estabeleceu um notável estilo próprio, refinado com o passar dos anos, e que acabou se tornando uma referência para o chamado cinema independente. Diversos novos cineastas tomaram a obra de Anderson como inspiração, e entre os mais recentes exemplos está o canadense Martin Talbot, que com Henri Henri – sua estreia em longas-metragens – busca claramente emular as principais características visuais e narrativas do diretor norte-americano responsável por filmes como Moonrise Kingdom (2012) e O Grande Hotel Budapeste (2014). Estão lá os enquadramentos simétricos, a atmosfera vintage, a direção de arte e a fotografia que fazem uso de uma paleta de cores em tons pastéis, os personagens excêntricos, etc.
Talbot utiliza estes elementos para contar a história de Henri (Victor Andres Turgeon-Trelles), um jovem tímido e inocente que foi criado durante quase toda a sua vida por freiras em um convento, onde se tornou o responsável por cuidar da manutenção das lâmpadas. Quando o local é comprado e as freiras realocadas, Henri é obrigado a se mudar e morar sozinho. Como uma criança que vê o mundo pela primeira vez, o personagem cruza o caminho de diversas outras figuras, sempre tentando fazer o melhor uso daquele que acredita ser seu “dom”: trazer luz para a vida das pessoas. Neste percurso, Henri consegue emprego em uma loja de lâmpadas, faz amizades e descobre a paixão na forma da bela Hélène (Sophie Desmarais).
Existe um claro tom de fantasia na narrativa – em especial no que diz respeito ao dom de Henri e também ao de outra personagem, revelado ao longo da trama – mas que Talbot hesita em abraçar por completo. A sensação de que o cineasta nunca tem a coragem de se arriscar também é acentuada pela excessiva ingenuidade das situações apresentadas, que são um reflexo da personalidade de seu protagonista. Do fato de Henri acreditar que o dono da loja seja realmente um gênio da lâmpada até a piada com o pai que saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou, tudo é apresentado de modo demasiado pueril, o que faz com que até mesmo acontecimentos que deveriam surpreender sejam facilmente percebidos com antecedência pelo espectador, como a cegueira de Hélène.
Outra fragilidade do longa de Talbot é a falta de identidade, que surge não só pelas já citadas referências estéticas, como também pela própria construção da figura de Henri, o adulto com alma infantil, bom samaritano, honesto e que deseja mudar a vida das pessoas à sua volta. Um personagem que soa como uma mistura de tantos outros já estabelecidos no imaginário cinematográfico, de Forrest Gump a Edward Mãos de Tesoura, passando por Amélie Poulain e Benjamin Button. Apesar de todos estes pontos problemáticos, existem qualidades no trabalho do cineasta canadense. Uma delas é a boa condução do elenco, que apresenta atuações bem homogêneas, como o carismático Turgeon-Trelles e a encantadora Desmarais.
Toda a parte técnica também é bastante competente e Talbot é capaz de criar algumas composições visuais realmente belas, ainda que outras tantas sejam derivativas. Trabalhando dentro das convenções das comédias românticas indies, o cineasta consegue inserir algum frescor e boas ideias nesta fórmula tão explorada, como a do emprego de Hélène: a caixa de bilheteria de um cinema pornô que não é capaz de identificar os clientes. Já a leveza extrema da história poucas vezes é quebrada por alguma carga dramática. Este peso, ainda que mínimo, advém quase que por completo da presença do antigo dono de uma fábrica de picles em conserva, o Sr. Binot (Marcel Sabourin), definitivamente o coadjuvante mais interessante e bem desenvolvido do longa.
Por sua vez, todos os outros personagens secundários – como o vizinho dos talheres de plástico – possuem basicamente a função de entregar peças para o quebra-cabeça que amarra o desfecho da trama com certa engenhosidade. O resultado de todos estes erros e acertos é um produto agradável que sintetiza as principais características de seu protagonista: simpático e bem intencionado, porém nunca chegando a ser particularmente marcante ou especial.
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