Guerreiras do K-Pop

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Sinopse

Em Guerreiras do K-Pop, quando não estão lotando estádios, as estrelas do K-pop Rumi, Mira e Zoey usam seus poderes secretos. Isso tudo para proteger os fãs contra ameaças sobrenaturais. Inimigos excêntricos surgirão de todos os lados e formas. Ação/Animação/Música.

Crítica

Até pouco tempo, com a chegada de fenômenos como Parasita (2019) e Round 6 (2021), ainda era necessário justificar por que tanto da força criativa mundial vinha da Coreia do Sul. A injeção de recursos em políticas culturais desde a virada do milênio sempre era evocada para explicar o protagonismo que hoje parece incontornável, já que tudo parece girar, de algum modo, em torno da cultura pop daquele país asiático. O K-Pop, evidentemente, entrava nesse pacote de razões. Agora, o público já se acostumou a esse cenário e sequer estranha que Guerreiras do K-Pop, produção mais vista da história da Netflix, não tenha assinatura de uma empresa sul-coreana. A aposta, dirigida pelos norte-americanos Chris Appelhans e Maggie Kang, bebe da fonte original e respeita seus fãs, gerando resultado que parece raio que atravessa o céu depois de longo acúmulo de nuvens.

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No enredo, Rumi, Mira e Zoey formam o trio Huntr/x, conjunto de cantoras e dançarinas de K-Pop que precisa proteger o universo de demônios do submundo. A defesa contra esses seres reside justamente na música delas, que, quanto mais ecoada pelos fãs, cria uma camada de energia capaz de barrar o mal. Nesse sentido, a obra traduz em alegoria a própria lógica da indústria pop: a idolatria como combustível e o engajamento como forma de sobrevivência. O caos se instala quando as criaturas resolvem montar sua própria boy band, os Saja Boys, em alusão a ídolos como o BTS, estabelecendo rivalidade direta com as garotas. Não se trata apenas de conflito entre forças sobrenaturais, mas também de disputa por território de fãs, likes e atenção, numa batalha que mistura marketing, poder e desejo. O equilíbrio do planeta, portanto, depende da manutenção dessa base fiel, pois perder terreno para o inimigo significa abrir as portas do apocalipse.

A verdade é que não há grande complexidade narrativa, mas talvez aí resida o mérito da empreitada: a música não funciona como simples intervalo entre cenas, tal qual em muitos clássicos da Disney, mas como elemento vital para a sobrevivência do universo. Se a canção para, o caos toma conta, e o ritmo contínuo torna-se questão de vida ou morte. Nesse jogo, “Takedown”, “How It’s Done” e, sobretudo, “Golden” funcionam como engrenagens essenciais, capazes de colar no ouvido e mover a trama com cadência hipnótica. Cada faixa cumpre papel duplo: entretém o espectador e sustenta a própria lógica interna da narrativa. O brilho das coreografias, aliado à diversidade das protagonistas, amplia ainda mais o impacto visual, criando experiência que beira o concerto filmado. Trata-se, em última análise, de show embalado para ir além, sempre mais além, sustentado por ritmo e energia, em que a música é tanto arma quanto escudo.

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Mas alguém pode estar se perguntando: se todo o enredo orbita o K-Pop, por que Estados Unidos e Canadá figuram como países de origem, deixando a Coreia do Sul de fora? A explicação é simples: o título não usa nomes de grupos reais, apenas se inspira no universo musical, e contou com vozes e canções interpretadas por artistas ligados à cena sul-coreana, incluindo integrantes do TWICE. O lucro maior, claro, fica nas mãos da Sony Pictures Animation, mas a Coreia do Sul ganha cada vez mais difusão cultural nesse show de luzes, danças e canções. Pode não haver muito mais além disso, mas é impossível negar que a produção sabe fisgar quem se deixa envolver pelo espetáculo, fazendo ainda mais sentido ouvir as protagonistas cantarem “we’re goin’ up, up, up, it’s our moment. Gonna be golden!” (“estamos subindo, subindo, subindo, é o nosso momento. Vai ser dourado!”).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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