Jovem e Bela
Crítica
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Sinopse
Isabelle é uma bela jovem de 17 anos que, apesar de confortável condição social e familiar, se torna prostituta. Desprovida de culpa, moral ou traço de melancolia, a adolescente desassocia sexo de emoções, e se utiliza de suas aventuras sexuais para suprir algo que vai muito além do poder e consumação da sedução: o interesse em compreender seu próprio corpo. O longa se divide em capítulos que partem do olhar de quatro voyeurs (irmão, cliente, mãe e padrasto). Cada um se passa em uma estação do ano e tem canções compostas pela francesa Françoise Hardy.
Crítica
As agruras comuns a tantos adolescentes, somadas as ilusões que acompanham a descoberta sexual de uma jovem e bela garota, são revistas em minúcia no mais novo trabalho de François Ozon, indicado à Palma de Ouro em Cannes. Sua abordagem imparcial, bem humorada e elegante, tem como principal virtude a notável atuação de Marine Vacth, que conduz o filme enquanto hipnotiza com sua inegável beleza.
Apontado constantemente como uma atualização de A Bela da Tarde (1967), Jovem e Bela divide algumas similaridades com o clássico de Luis Buñuel, igualmente centrado na vida dupla de uma mulher que se lança à prostituição sem necessidade ou razão aparente. No entanto, o drama se associa ainda mais a outros filmes do próprio Ozon ao apresentar uma incomum iniciação sexual na juventude, como Sitcom (1998) e Gotas D’Água em Pedras Escaldantes (2000), com o clima tensamente erótico de Swimming Pool – À Beira da Piscina (2003), uma de suas maiores obras.
Jovem e Bela é segmentado em quatro capítulos, cada um ambientado numa estação do ano e pontuado por uma música de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma melancolia introspectiva e enigmática. Munido do poema Ninguém é sério aos 17 anos, de Arthur Rimbaud, François Ozon sublinha as infinitas possibilidades que percorrem a adolescência numa leitura que direciona quaisquer julgamentos morais para seus espectadores. Suas acuradas observações, no entanto, questionam a maneira que jovens mulheres são direcionadas a explorar a beleza e sensualidade como suas principais mercadorias.
Isabelle é cercada por tipos quase tão interessantes e complexamente desenvolvidos – pelo roteiro de Ozon e seus intérpretes – quanto ela própria. A relação inconstante que mantém com a mãe, os flertes com o padrasto e a cumplicidade incomum com o irmão mais novo vão aos poucos revelando as verdadeiras facetas da garota, que é tão deslumbrante quanto indecifrável – ainda mais quando se transforma com uma camisa de seda cinza, saia na altura dos joelhos, sapatos de salto e batom vermelho.
Conscientemente afastado dos artifícios narrativos do delicioso Dentro da Casa (2012), Ozon concentra seu reconhecido trato às personagens femininas em Isabelle, e a apresenta sem pudor nas muitas sequências de sexo da qual seu roteiro se vale. Marine Vacth, com o primeiro papel de destaque em sua recente carreira, demonstra maturidade e magnetismo que devem a impulsionar ao estrelato ao lado de outras atrizes francesas em plena ascensão internacional – como Léa Seydoux, Lola Créton e Mélanie Laurent.
Na primavera que conclui o filme, a protagonista de Ozon ensaia um romance tradicional, mas a sensação de que algo profundo se transformou dentro de si é evidente. Longe de conclusões premeditáveis, Isabelle até deixa transparecer alguma mágoa, culpa e arrependimento pelo que se passou, porém o encontro com uma mulher mais velha (magistralmente interpretada por Charlotte Rampling) encaminha o filme para um fechamento ambíguo e nebuloso. É a conexão que demonstra que apenas o tempo poderá revelar algum sentido para suas precoces experiências.
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Jeune et Jolie (2013): Descobrindo seus desejos. Um estudo de personagem. A sexualidade e a sedução da adolescência, a prostituição como forma de provocação e estímulo diante da complexidade da vida.Achei muito bom, a protagonista é extremamente linda, e a atuação dela é muito boa. É legal o filme contar uma fase diferente da Isabelle a cada estação, ela é extremamente fria e faz parecer que não pertence àquela vida/idade que tem. Não dava nada e me surpreendeu bastante. Um estudo de personagem, que em nenhum momento é erótico escancarado, é um filme delicado e sensual de um jeito bom. Sem dar absolutamente nenhuma resposta, somos compelidos a analisar nós mesmos as situações ali apresentadas, de tudo que a Isabelle sente.Em alguns momentos me lembrou Call Me by Your Name (2017), a atmosfera, o cenário, a fotografia, a ambientação. A apatia da personagem principal me lembrou uma série que assisti chamada The Girlfriend Experience (Starz, 2016) agora como o filme veio antes pode ter servido como inspiração.O filme é muito bem dirigido e em termos técnicos não existem defeitos. Encaixaria bem como série e assim abriria mais espaço para explorar a vida de Isabelle.