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Sinopse
Familia, Pero No Mucho: Otávio é um pai que viaja com a família para Bariloche para conhecer o noivo argentino da filha, Mariana. A viagem se transforma em uma série de confusões e desentendimentos culturais, especialmente entre as famílias brasileira e argentina, com direito a muita neve, vinho e "portunhol". Comédia.
Crítica
Desde 2012, quando lançou o primeiro filme da saga Até que a Sorte nos Separe e levou milhões de espectadores aos cinemas brasileiros, Leandro Hassum se consolidou como um dos principais vetores do humor popular no país, adotando um modus operandi bastante definido: comédias desenhadas para favorecer suas gags, tramas fáceis e aposta declarada no riso imediato. De lá para cá, são inúmeros títulos, de obras que quase provocam o revirar de olhos, como Os Caras de Pau em O Misterioso Roubo do Anel (2014), a apostas ligeiramente mais interessantes, como Tudo Bem no Natal que Vem (2020). Família, Pero No Mucho, dirigido por Felipe Joffily, dá continuidade a essa estratégia. E ainda que o terreno seja amplamente conhecido, há sempre expectativa em torno de como a engrenagem será posta em movimento mais uma vez.
Desta vez, Hassum é Otávio, o proprietário de um restaurante no Rio de Janeiro e pai coruja de Mariana (Júlia Svacinna), musicista prestes a se mudar para a Europa. O viúvo, agora casado com Joana (Karina Ramil), tenta lidar com a iminente distância da filha. Tudo se complica ainda mais quando, após temporadas fora, Mariana retorna ao Brasil com a notícia de que vai se casar. O pretendente? Miguel (Simón Hempe), um argentino. A partir daí, como de praxe, tudo serve à lógica do tipo que Hassum tanto gosta de interpretar: o “tiozão do pavê”, cujas inseguranças são traduzidas em reações caricatas e comentários repletos de clichês.
O encontro das duas famílias em Bariloche escancara o eixo central da narrativa. Basta a chegada do sogro argentino, Hector (Gabriel Goity), para que a empreitada mergulhe em duelo de estereótipos desgastados. Entre piadas sobre o clima, as bebidas típicas e a rivalidade futebolística, o trio de roteiristas, ainda que conte com um argentino no time, parece se contentar com o que há de mais raso. Não há provocação nem elaboração – há apenas o velho receituário de humor de churrasco, pronto para consumo imediato.
E esse consumo, convenhamos, é feito com estrutura grandiosa. A produção viaja até Bariloche, aproveita paisagens encantadoras, investe em figurinos, locações, elenco numeroso. É realização que, em tese, poderia sair do lugar-comum e provocar algo além da gargalhada fácil. Mas Hassum e sua equipe continuam insistindo em subestimar a própria audiência. Há quem defenda essa postura com o argumento de que se trata de “comédia popular”. O próprio ator costuma reforçar essa ideia em entrevistas, intitulando seu trabalho como “comédia do povão”. No entanto, há um abismo entre ser acessível e ser simplório. Humor direto não precisa ser sinônimo de falta de engenho.
É inegável que Hassum tem domínio cênico e timing. Mas sua insistência em centralizar a graça em si mesmo, como se tudo ao redor fosse apenas escada para suas caretas e bordões, já revela – há tempo – sinais de esgotamento. Muitos o comparam a Adam Sandler, não apenas pela trajetória em comédias comerciais, mas pelo modo como constrói universos ao seu redor. A diferença é que, nos trabalhos de Sandler, os coadjuvantes frequentemente roubam a cena. Aqui, quase ninguém fica. Termina a sessão e pouco se leva. E talvez esse seja mesmo o destino pretendido: um projeto descartável, para ocupar a tarde de domingo e logo sumir da memória. Uma pena, porque Família, Pero No Mucho poderia ser mais.
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