Crítica

Há dois gêneros que invariavelmente me decepcionam: a comédia romântica e o terror. São cada vez mais raras as produções destes estilos que conseguem nos surpreender e emocionar. Evocando Espíritos, apesar do anúncio inicial de que se trata de algo “baseado em fatos reais’, pouco consegue acrescentar neste sentido. Há um mistério no ar, e o cenário que aos poucos vai se descortinando é bastante verossímil, porém quando os sustos começam a lógica logo abre espaço para a adrenalina barata. E ao invés de termos um marco referencial nos deparamos com mais do mesmo.

Baseado numa série de documentários exibidos no canal Discovery, Evocando Espíritos trata de um caso que despertou bastante atenção da mídia de Connecticut, interior dos Estados Unidos, no final dos anos 80. O enredo, que se resume a um clichê bastante revisitado – o da casa mal assombrada – assume novos contornos quando questões físicas passam a se confundir. A família Campbell decide alugar uma casa mais próxima do hospital onde o filho mais velho enfrenta um severo tratamento contra o câncer que o aflige. Enquanto o pai (Martin Donovan, visto em seriados como Weeds e Ghost Whisperer) precisa ficar dividido entre duas cidades, dando atenção ao trabalho e à esposa e filhos, ela (Virginia Madsen, indicada ao Oscar por Sideways – Entre Umas e Outras, 2004) assume as rédeas da delicada situação. Só que os problemas deles aos poucos vão se tornando maiores, principalmente quando o garoto passa a ter alucinações que indicam um passado nada auspicioso para aquele local.

O que descobrem, então, é que se trata de uma residência que dividia ocupações com uma funerária, além de outras atividades ainda mais assustadoras – havia um garoto, ajudante do antigo proprietário, que possuía dons mediúnicos, e os usava em sessões para se comunicar com os mortos. Mas uma tragédia aconteceu, provocando a ira de muitos – vivos ou não – que foram amaldiçoados eternamente. E na busca pela paz e tranquilidade no além quem irá sofrer são os novos ocupantes daquele lar, que terão que descobrir o que querem os fantasmas para conseguirem, finalmente, descansar.

Dirigido pelo novato Peter Cornwell, Evocando Espíritos carece de uma maior segurança na sua condução para diferenciar o que é tolice daquilo que realmente pode atingir significados mais perturbadores e comoventes. Há certos feitos que visam única e exclusivamente provocar reações na plateia, esbanjando efeitos especiais sem verdadeiras necessidades. Outro fator problemático é o próprio roteiro, construído dentro de uma estrutura óbvia e previsível, com reviravoltas pouco convincentes e soluções clichês, que enganam apenas os mais desligados. Por outro lado, é possível, sim, levar bons sustos e ter algumas surpresas durante o desenrolar da história. Mas o que fica é: o objetivo era apenas entreter de forma passageira e descompromissada ou provocar reações que permanecessem? Independente das intenções, estas metas nunca são atingidas plenamente, e o que se vê na tela grande é incapaz de se destacar dentro de um contexto maior. E por fim tudo o que evocamos são pedidos de paciência, já que todo o resto foi desprezado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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