Crítica

Candidato a melhor filme do IX Fantaspoa, Eu Declaro Guerra, de Jason Lapeyre e Robert Wilson, é outro longa a analisar a natureza humana. Assim como The Human Race, trata-se de um jogo em que os envolvidos revelam suas personalidades. Porém, aqui os indivíduos são mais elaborados. Ambíguos, mostram-se de forma inocente ou calculada, muitas vezes sem perceber as reais consequências de seus atos.

Há outras diferenças importantes entre os dois títulos. Eu Declaro Guerra tem um elenco de crianças, que estão jogando porque querem e não por obrigação, como no outro filme. Além disso, o menor número de personagens em relação a The Human Race proporciona mais aproximação com o público.

Na trama criada por Lapeyre, pré-adolescentes brincam de guerra em uma floresta. Até aí, nenhuma novidade. Não teve infância quem nunca brincou de guerra ou de mocinho e bandido empunhando armas de madeira, mas profundamente reais dentro do universo do jogo. No entanto, não apenas o armamento é levado a sério. Todo simulacro de combate criado por eles tem um parâmetro real enquanto a brincadeira está em andamento. E quando o jogo sai do controle, tem-se a noção do quanto a própria realidade molda a fantasia.

São dois grupos de amigos, um coordenado por PK (Gage Munroe ) e outro por Quinn (Aidan Gouveia). Ambos os líderes são pequenos gênios da estratégia militar. Criam planos, operações, táticas e artifícios para atingir seus objetivos: invadir a base alheia e tomar a bandeira do oponente. PK e sua equipe foram os vencedores de todas as guerras até hoje, e ele quer ganhar mais uma.

Os comandantes são rigorosos quanto às regras do jogo. Têm noção de que mesmo durante uma guerra há convenções que devem ser seguidas. Porém, há integrantes dos dois lados que não querem seguir regulamentos. Preferem burlar procedimentos para vencer o desafio. PK consegue manter o controle sobre seu exército, mas Quinn é derrubado pelo subordinado Skinner (Michael Friend) em um típico golpe interno.

Obtuso e desequilibrado, Skinner não tem condições de comando, porém se impõe devido ao temperamento forte e violento. Seu objetivo não é apenas vencer a guerra, mas promover uma vingança pessoal com requintes cruéis. A partir disso, a guerra torna-se nada vez mais real, afetando até mesmo o racional PK. Para ampliar a sensação, os diretores utilizam um elemento visual muito interessante, transformando as armas de brinquedo em armamentos reais de forma discreta.

Com excelentes atores, roteiro criativo e direção afiada, Eu Declaro Guerra não apenas remete a filmes intensos como O Senhor das Moscas (1963; 1990) e Battle Royale (2000) como faz uma crítica à competitiva cultura de guerra que é um dos pilares socioeconômicos dos Estados Unidos. Mais um título imperdível na edição 2013 do festival.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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