Esposa de Mentirinha

Crítica

Quem é fã de Adam Sandler sabe o que esperar de cada novo filme do astro da comédia americana. Mas o que faz Esposa de Mentirinha um pouco diferente é a presença de duas estrelas femininas: Jennifer Aniston e Nicole Kidman. Se a primeira divide o estrelato como protagonista, conduzindo a ação mais para o terreno da comédia romântica ao invés do besteirol escrachado, a segunda é a participação especial que confere ao produto um ar mais sofisticado, elevando a responsabilidade geral do projeto. E como resultado temos algo que, mesmo previsível, consegue entreter de acordo com o esperado e ainda provocar dois ou três momentos mais descontraídos e de verdadeira graça. O que, neste caso, já é lucro.

Sandler aparece mais uma vez no papel de sempre: como um ‘kidult’, um homem-adolescente, um cirurgião plástico que foi traumatizado quando jovem pela antiga noiva e que, desde então, vive cada noite com uma mulher diferente na cama. Sua técnica de conquista é usar uma aliança falsa e fingir que está se separando – no mundo de fantasia proposto pelo filme, isso é o suficiente para que todas as gostosas se interessem por ele, afinal “mulher alguma quer compromisso sério”. Assim, se envolver por apenas uma noite é o caminho mais seguro para não se machucar emocionalmente. Isso até ele se apaixonar de verdade e a moça escolhida fazer questão de conhecer a ex! Seguindo na farsa, ele pede a ajuda da assistente, a secretária vivida por Aniston, mãe solteira de duas crianças. E entre as confusões de sempre, a turma toda acaba no Havaí, levando adiante uma mentira que, no momento em que vem por terra, provocará inesperadas reações.

O diretor de Esposa de Mentirinha é Dennis Dugan. Este é o sexto projeto do cineasta que conta com Adam Sandler como protagonista! Ou seja, o entrosamento dos dois é óbvio, um deixando o outro completamente livre para fazer o que quiser em frente às câmeras. Mas é a presença de Aniston que equilibra o jogo, mostrando porque ela é uma das rainhas da atual comédia romântica hollywoodiana. Cada vez em que os dois estão em cena as atenções se concentram todas nela, ainda mais após o ‘extreme makeover’ que passa para se apresentar como a ex-esposa. Linda e muito à vontade, será ela a responsável pelos melhores momentos, como na batalha de hula-hula ao lado de Kidman ou quando tem que lidar com os filhos diante da nova situação, numa encenação que não só convence como também diverte.

Esposa de Mentirinha é daqueles filmes para ser assistido num sábado à tarde, após um passeio no shopping e antes de um jantar animado entre amigos. Uma semana depois, você provavelmente já terá esquecido tudo o que viu, e mesmo o que recordar não irá mudar sua vida. Mas se é descartável, ao menos funciona como entretenimento passageiro. Dono de boas piadas e com um roteiro rasteiro que desde o princípio permite vislumbrar cada movimento dos personagens até a inevitável conclusão, serve apenas para manter o status quo dos astros envolvidos, que saíram dessa com mais um sucesso de bilheteria, sem grande esforço.

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Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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