Crítica
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Sinopse
Em Eco de Luz, Misha, um fotógrafo documental, submerge na história da sua própria família. Nessa viagem pelo íntimo, utiliza a antiga câmera do seu avô para recriar um álbum de lembranças e se conectar com aquele homem que nunca conheceu. Documentário.
Crítica
Temos aqui algo universal. Talvez todos tenham um parente que se perdeu no emaranhado do tempo, pode ser alguém próximo, como um pai, ou distante, como um primo de quem pouco se fala. Surgem as perguntas inevitáveis: que fim levou? Morreu como? Poderia ter sido diferente? Do que gostava? Para alguns, a curiosidade se esgota aí. Para outros, ela se transforma em missão. E há, ainda, aqueles que carregam o dom de reconstituir histórias, de dar voz ao que parecia esquecido. É nesse território que se move o cineasta equatoriano Misha Vallejo Prut, que, em Eco de Luz, faz da ausência um ponto de partida para imaginar conexões possíveis: e se esse homem fosse parecido comigo? E se tivéssemos sido amigos?

Vallejo Prut embarca em investigação íntima, atravessada por lacunas e descobertas. O fio condutor são fotografias feitas por seu avô, homem que jamais conheceu, mas que permanece como fantasma silencioso em seu álbum familiar. A partir dessas imagens, o diretor recompõe genealogia fragmentada, revisita parentes de diferentes gerações e encontra, sobretudo, na avó, uma guardiã das memórias. O percurso, no entanto, não se limita ao passado distante: aos poucos, torna-se também oportunidade de revisitar o vínculo com o próprio pai, tentativa de reparar mágoas e reaproximar afetos diante da câmera.
Com olhar treinado pela experiência como fotógrafo, Vallejo cria momentos que respiram sensibilidade, alternando o silêncio das recordações com a materialidade do presente. O filme assume ritmo contemplativo, evocando um vaivém de perguntas sem respostas definitivas, em diálogo direto com uma inquietação profundamente latino-americana.
Nessa região onde a memória coletiva foi marcada por apagamentos e migrações forçadas, a questão da origem é sempre atravessada por lacunas. Italianos e alemães que chegaram há pouco mais de um século lutam para resgatar traços de pertencimento. O que dizer, então, de quem carrega sobrenome herdado do colonizador ibérico? Ou, mais doloroso ainda, de quem traz no corpo a herança de povos escravizados, sem registros preservados?

É justamente nesse espaço de silêncios e ruídos que Eco de Luz encontra sua força. O longa não oferece respostas fáceis, mas provoca o debate: de onde viemos? Quem nos moldou? Por que somos o que somos? A cada quadro, Vallejo sugere que compreender o passado não é exercício de nostalgia, mas de resistência. Resgatar memórias é também inventar novos futuros, pois só ao iluminar as sombras do ontem conseguimos enxergar com clareza o que ainda está por vir.
Filme visto durante o 35º Cine Ceará, em setembro de 2025.
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