De Cabeça Erguida
Crítica
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Sinopse
A história gira em torno de Malony, um garoto com problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período no qual um juiz da vara da infância e um assistente social tentam salvá-lo de ter um futuro com problemas ainda maiores.
Crítica
De Cabeça Erguida foi recebido com certa surpresa quando anunciado para a sessão de abertura do Festival de Cannes de 2015. Para um evento que ano após ano apostava em atrações iniciais que chamavam a atenção mais por seus elencos hollywoodianos do que pela qualidade cinematográfica, o evento francês pareceu dar um sinal de evolução ao selecionar o filme dirigido por Emmanuelle Bercot, uma produção madura e, curiosamente, da própria casa.
O cinema de Bercot pareceu crucial frente aos selecionados desse ano. Alinhada politica e socialmente, este filme pincela vários assuntos através da jornada de 10 anos do jovem delinquente Malony (Rod Paradot), entre idas e vindas de reformatórios e processos. Esse retrato serve como reflexo de alguns dos principais problemas que são caros à Europa e, em especial, à França. Em alguns momentos, inclusive, traz à tona questionamentos atuais em escalada mundial, chegando próximos aos brasileiros com a questão de maioridade penal. Para os europeus, os temas mais recorrentes são o sistema educacional e penal, questões raciais e de imigração. Bercot não adentra em muitos desses aspectos, mas deixa no ar uma interessante reflexão para a plateia.
Sem precisar de uma década para filmar sua história, como certos diretores americanos, a diretora francesa nos apresenta um trabalho que relembra Robert Bresson e François Truffaut, porém sem perder a originalidade. Inclusive, retoma seu próprio cinema sobre relações de idades diferentes, figuras maternais e a estrutura familiar. Nisso, é interessante notar que em momento algum Bercot embarca em uma onda de homenagens ao próprio cinema francês. Seu filme não é uma colagem de outras produções. É puramente um cinema orgânico que busca realismo e retratar vivências. E, algumas delas, muito bem explicitadas pelo elenco irretocável.
Catherine Deneuve, que repete a colaboração com Bercot iniciada em Ela Vai (2013), está brilhante como de costume. Sara Forastier é de um assombro em cena ao interpretar a desnaturada mãe de Malony, roubando a atenção de quem assiste e certamente merecendo qualquer indicação possível na próxima temporada de premiações. Benoît Magimel, o tutor do jovem protagonista, tem uma interpretação repleta de sutilezas e um olhar que diz muito. Mas realmente não há como negar que a escolha do novato Paradot – fazendo sua estreia no cinema – para interpretar Malony é o grande acerto da produção.
Rod Paradot desenvolve seu papel explosivo de forma que deixa o espectador sempre esperando pelo pior, mas com uma ponta de esperança. A dificuldade do personagem em criar laços, a insegurança que surge ao se aproximar de alguém, a impaciência, a sexualidade bruta, entre outros tantos aspectos conflitantes do personagem, muito bem criado por Bercot e sua co-roteirista Marcia Romano, entregam uma atmosfera angustiante a um tipo de produção que, finalmente, Cannes soube como receber da melhor forma.
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