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Com Unhas e Dentes: Singh é um ex-lutador de Muay Thai. Pensando estar vivendo dias mais calmos, ele precisa, de um dia para o outro enfrentar um surto de mortos-vivos em um hospital. O objetivo é salvar sua namorada, uma médica, e um menino perdido. Ação/Horror.
Crítica
De Juan dos Mortos (2011) a Invasão Zumbi (2016), os mortos-vivos se globalizaram sem pedir passagem, com produções de diversos cantos do mundo encontrando no apocalipse palco para imaginações ora desvairadas, ora sofisticadas. O segredo, se é que há um, talvez resida na simplicidade da fórmula: há ameaça que contamina, e há grupo de sobreviventes armados com o que tiver à mão. Pode ser serra elétrica, bastão, frigideira. Em Com Unhas e Dentes, empreitada tailandesa dirigida por Kulp Kaljareuk, a ferramenta de combate é o próprio corpo, usado com destreza por um lutador de muay thai.

A trama acompanha Singh (Mark Prin Suparat), ex-professor de artes marciais que, desiludido, aceita serviços escusos que demandam força e silêncio. Um dia, a ex-namorada Rin (Nuttanicha Dungwattanawanich) se vê em situação de alto risco quando, no hospital onde trabalha, uma infecção – originada a partir do fígado de peixe contaminado – toma conta de todos. Singh parte em sua direção, decidido a salvá-la. No trajeto, conhece o pequeno Buddy (Wanvayla Boonnithipaisit), que se torna parte do resgate. O hospital colapsa enquanto os zumbis, meio humanos, meio aquáticos, se espalham – e os combates lembram rounds de MMA em corredores apodrecidos.
O recurso à pancadaria como única linha de defesa é diferencial curioso. Afinal, todo mundo sabe – até uma criança, como o próprio Buddy – que só golpe bem dado na cabeça neutraliza a ameaça. Mas Singh, munido de seus punhos e pernas, insiste em série de lutas que parecem mais coreografadas do que funcionais. Há energia, mas pouca lógica narrativa. Kaljareuk e seus quatro co-roteiristas apostam na plasticidade do combate como espetáculo. Não há progressão, só repetição de movimentos embalados por cortes rápidos. Estilo há de sobra, substância, nem tanto.
O título distribuído pela Netflix parece almejar mais do que entrega. Insinua origens marinhas para o vírus, incorpora mutações improváveis e deixa tudo em aberto – como se a real proposta fosse plantar sementes para sequências. Há pouco cuidado no desenvolvimento, como se os criadores tivessem pressa em acumular cliques antes mesmo de contar uma história. O resultado é vitrine de ideias, muitas promissoras, nenhuma devidamente cultivada. Como tantas outras promessas das plataformas, este trabalho caminha ao lado de um algoritmo, e não de uma narrativa.

Com Unhas e Dentes é, assim, obra de passagem, dessas que se consomem entre distrações e logo escorrem do pensamento. O que poderia ser ambiciosa obra tailandesa do gênero, se apequena na tentativa de transformar Singh num herói de videogame – invencível, incansável e inalcançável. O que sobra, ao fim, é a força bruta. Aquela mesma que, lá no início, parecia trazer um frescor ao filme de zumbis, mas que, sem contraponto, acaba virando apenas ruído.
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