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Sinopse
Cloud: Nuvem de Vinganga tem como protagonista Yoshii, um jovem que vive dias tranquilos em Tóquio, Japão, onde trabalha em uma pequena fábrica e faz bicos em um e-commerce. Sua vida passa a mudar gradualmente quando o jovem decide se dedicar à revenda de produtos baratos por preços altos, sob o pseudônimo Ratel. Conforme os clientes começam a se sentir lesados pelas compras, um sentimento de revolta e vingança toma conta deles. Horror.
Crítica
O protagonista de Cloud: Nuvem de Vingança, filme dirigido por Kiyoshi Kurosawa – nenhum parentesco com o mestre Akira Kurosawa – é um homem comum. Sua aparente simplicidade lhe dá a falsa sensação de ser também invisível, ou seja, apenas mais um na multidão, alguém que não despertaria a atenção de mais ninguém. Assim como tantos outros, ele também quer vencer na vida – e sem fazer muita força, de preferência. Logo na primeira cena, o vemos adquirindo um grande carregamento de equipamentos médicos diretamente no fornecedor por um preço muito abaixo da média do mercado. “Estou lhe fazendo um favor, assim você se livra de tudo de uma só vez”, diz para quem sabe estar diante de um péssimo negócio, mas do qual não consegue evitar. No entanto, essas palavras são mais para si mesmo, como se quisesse se convencer de não estar fazendo nada errado. E se depois ele vai revender por 100 aquilo que pagou apenas 10, bom, isso faz parte de sua estratégia. Em um mundo de cegos, quem tem um olho é rei, diz o ditado. Mas a que preço?
Enquanto vai levando um dia após o outro por meio destes quase trambiques virtuais – suas operações são todas na internet, por meio de um pseudônimo – segue cada vez mais entediado na fábrica que ocupa sua rotina. Ele não almeja crescer e ser promovido no seu trabalho diário. É só uma fase, pensa. Porém, essa já passou. É chegado o momento de mudança. É sábio para evitar um passo mais arriscado – que pode lhe gerar um lucro muito além daquele com o qual está acostumado, mas por que passar pela tensão de perder o pouco que já conquistou em troca de uma mera possibilidade? Prefere seguir por caminhos já trilhados, fazendo o que bem sabe, sem sustos ou surpresas. Ou assim imagina. Decidido, abandona o emprego, pede a garota com quem está saindo em casamento e mudam-se os dois para o interior, para uma casa maior, ainda que afastada de tudo e todos. Acredita ter encontrado a paz e sossego com os quais há tempos sonha. Porém, essa é uma certeza sem garantias.
Pois ao mesmo tempo em que Kurosawa vai de modo paciente traçando esse tênue e frágil cotidiano de um homem acostumado a passar os outros para trás, pistas vão sendo deixadas pelo caminho indicando que não tardará para que o cenário se altere de forma brusca. Um rato morto é deixado enrolado num jornal no pé da escada na entrada de sua casa. Um vulto é visto no meio da noite observando sua janela. Um negócio que tinha tudo para dar certo é cancelado em cima da hora. Um pressentimento começa a lhe cercar. É quando o filme se transforma, como se um lado do disco já tivesse cumprido sua parte, e é chegada a vez da outra metade contar a sua história. Não só o levante daqueles que buscam por reparar suas perdas. Mas também para que aqueles ao redor do protagonista revelem suas verdadeiras faces. Do assistente que leva até às últimas consequências as suas palavras ao melhor amigo repleto de segundas intenções, passando pela namorada que sempre deixou claras as suas intenções, por mais que não fosse levada a sério.
É nesse ponto que Yoshii (Masaki Suda, um dos dubladores originais do oscarizado O Menino e a Garça, 2023, fazendo de uma suposta inexpressividade seu maior acerto) investe em uma insuspeita versatilidade sem muito esforço, apenas se deixando levar. Pois se no início ele carrega de forma relutante o peso do mundo em suas costas, como se todas as decisões dependessem apenas dele, é quando Cloud: Nuvem de Vingança se transforma em uma trama distinta daquela apontada no começo que ele passa de protagonista a coadjuvante, em uma reunião dos demais personagens contra si, restando apenas aquele que fora renegado a lhe estender o braço. Entre exageros e absurdos, passando por desfechos tirados do fundo da cartola e revelações que beiram à caricatura, Kurosawa ganha a atenção da audiência ao trilhar rente ao inesperado, mostrando que a melhor forma de surpreender é abrindo mão da verossimilhança por meio de uma narrativa tão tensa quanto cômica, sabendo que é dessa combinação que vem sua força. Um acerto de deixar qualquer um de queixo caído, meio sem entender o que aconteceu, mas levando consigo o impacto das imagens oferecidas.
Filme visto na sessão de abertura do 14º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, em junho de 2025


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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Chico Fireman | 8 |
Alysson Oliveira | 4 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
Ailton Monteiro | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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