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Sinopse
Em Casa de Dinamite, depois que um míssil sem autoria identificada é lançado contra os Estados Unidos, uma corrida contra o tempo para encontrar o responsável e preparar uma resposta tem início. Diversos personagens do governo serão cruciais nessa empreitada de medo e tensão. Thriller.
Crítica
O novo filme de Kathryn Bigelow reforça a reputação de cineasta sempre atenta às tensões que moldam o mundo contemporâneo. Depois de um hiato desde I Am Not a Weapon (2018), a diretora vencedora do Oscar volta ao comando com olhar voltado para um medo tão moderno quanto invisível: o da ameaça nuclear. A realizadora, acostumada a transitar por zonas de conflito e dilemas morais, aposta, com Casa de Dinamite, novamente em um cinema de urgência e precisão técnica, mas, após tantos anos de espera, o resultado desperta a sensação de que poderíamos esperar algo mais ambicioso, algo que transcendesse o impacto do tema e deixasse marca emocional mais profunda.

Aqui, uma ameaça de bomba paira sobre os Estados Unidos, e a pergunta-gatilho é simples, embora cada vez mais irrelevante: quem estaria por trás disso? Rússia, China, Coreia do Norte – o roteiro levanta suspeitas, mas jamais se detém nelas, preferindo transformar a incerteza em combustível para o medo coletivo. O que interessa aqui não é o inimigo, mas o pânico difuso que cresce a cada minuto. Nesse tabuleiro, um elenco de peso – que inclui Rebecca Ferguson, Idris Elba e outros rostos conhecidos – se espalha em múltiplos pontos do caos, contribuindo mais como peças de uma engrenagem do que como personagens propriamente desenvolvidos. Kathryn parece querer mostrar que, em meio à histeria global, as individualidades se dissolvem, e a atmosfera passa a ser o verdadeiro protagonista.
Tecnicamente, o filme é um espetáculo de contenção e controle, com a tensão é construída em camadas, de forma quase imperceptível, até que o desconforto se instala. Nessa ideia, a diretora se vale de câmera nervosa, de estética quase documental, que por vezes perde o foco ou parece tremer em desespero, como se quem estivesse filmando também fizesse parte do colapso que se aproxima. O som, a montagem e a paleta fria reforçam a sensação de país em colapso interno, onde o medo se torna presença palpável, quase física. Não há dúvidas: o rigor técnico impressiona.
Há, contudo, tropeço recorrente no cinema de Bigelow, que aqui se manifesta de modo mais evidente: o de se tornar refém das próprias convenções hollywoodianas. Aqui, o inimigo pode ser invisível, mas a lógica ainda é a mesma – os Estados Unidos sob ataque, vítimas de força externa que ameaça sua integridade. A tentativa de humanizar os personagens, com breves momentos de intimidade – telefonemas, lágrimas, despedidas – soa mais como refúgio ao drama do que como construção de personas reais. Há tentativa – por parte de Noah Oppenheim, roteirista da saga Maze Runner e da minissérie Dia Zero (2025) – de equilibrar o espetáculo e a dor, mas tudo acaba preso a retórica patriótica que enfraquece a força do comentário social que poderia ter sido.

E há detalhe impossível de ignorar: em um mundo que transforma política em entretenimento (e vice-versa), o cinema não escapa de suas ironias. Afinal, até hoje, apenas um país lançou uma bomba atômica sobre outro – e foi justamente os Estados Unidos. No fim, Casa de Dinamite é filme tecnicamente irrepreensível, mas emocionalmente distante, um retrato do medo moderno feito com precisão, porém sem alma – e é justamente nessa ausência de humanidade que o projeto explode menos do que poderia.
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