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Sinopse
Em Caos e Destruição, um roubo de drogas sai do controle, levando um policial a encarar o submundo de uma cidade corrupta. Em meio a isso, ainda precisa salvar seu filho, que está sob influência de um político importante que tem poderes para destruir qualquer um. Ação.
Crítica
Há uma máxima em Hollywood que afirma que todo profissional que por lá se vê envolvido, seja na frente ou por detrás das câmeras, deve fazer “um para eles, e um para si”. Ou seja, deve-se realizar um filme “para quem manda”, quer dizer, para o grande público, para os investidores e destinado a agradar o maior número possível de pessoas, para que, apenas depois desse sinal de boa vontade, possa se dedicar a algo mais pessoal, voltado a um ímpeto artístico e elaborado. Caos e Destruição, certamente, é o “para eles” de Tom Hardy. O problema é que faz tempo que ele se encontra nesse percurso, entre a catastrófica trilogia Venom (destruída pela crítica, mas incensada com milhões nas bilheterias) e títulos pouco memoráveis, como os frustrantes Capone (2020) ou Clube dos Vândalos (2023). Distante são os anos que o colocaram sob o comando de nomes como Christopher Nolan, George Miller ou Alejandro G. Iñarritu. E se continuar no ritmo do que agora apresenta, mais longe ainda deverá ser uma eventual volta à velha – e boa – forma.
No longa escrito e dirigido por Gareth Evans (Apóstolo, 2018), tudo é exatamente aquilo que o espectador suspeita ser já à primeira vista. Walker (Hardy, entregando uma performance genérica, similar a muito do que já fez antes) é o policial bruto, mas de bom coração, envolvido em uma situação que irá lhe exigir habilidade para dela sair ileso. Vincent (Timothy Olyphant, preguiçoso) é o tira corrupto que banca de bom moço, mas está disposto a tudo para encher os bolsos e não assumir culpa alguma. Entre os dois está uma negociação de drogas que não deu certo, e dois herdeiros destinados a se darem mal. O primeiro, Johnny (Xelia Mendes-Jones, de Fallout, 2024) acaba morto, e sua mãe, uma poderosa matriarca de uma família de mafiosos, promete se vingar. E o principal suspeito é Charlie (Justin Cornwell, de Uma Invenção de Natal, 2020), filho do prefeito corrupto que pensa apenas na reeleição (Forest Whitaker, outro que precisa rápido trocar de agente).
Por vezes, a impressão é que Evans está desesperado para construir um John Wick capaz de chamar de seu. Mas Walker não tem o charme, e muito menos a concentração para encarar o anti-herói vivido por Keanu Reeves. Mesmo assim, segue-se uma sequência mais interminável do que a outra de tiroteios cujas armas parecem ter munição infinita, entremeados por golpes de facas, facões e machetes afiados, capazes de provocar jorros de sangue destinados a colocar fora de combate apenas os inimigos, e nunca os supostos mocinhos da parada. Quanto ao mistério da trama, esse inexiste. Afinal, sabe-se de antemão de Charlie e a namorada, Mia (Quelin Sepulveda, de Belas Maldições, 2023), são inocentes, tendo apenas estado no lugar e na hora errada. Os verdadeiros culpados, é claro, são os antigos colegas do protagonista. Mas conseguirá esse provar essa verdade antes que todos acabem mortos? Só os mais ingênuos duvidarão dessa empreitada.
Se Gareth Evans é incapaz de propor qualquer tipo de nuance na jornada proposta, também não é feliz em oferecer reviravoltas minimamente envolventes. Todos os desdobramentos são facilmente antecipados, os personagens são desprovidos de carisma e mesmo os laços entre eles se mostram por demais frágeis para que alguém na audiência sequer se importe. Em certa passagem, o prefeito é obrigado a matar o próprio filho para garantir sua eleição, e ele se mostra disposto a aceitar o acordo. No instante seguinte, a dinâmica muda radicalmente. Mas quando a vida do garoto é novamente colocada em risco, quem irá se atirar na frente na bala perdida para salvá-lo? Diante de gestos inexplicáveis e tentativas forçadas de estabelecer qualquer tipo de conexão com a audiência, resta apenas um Tom Hardy mais perdido do que aquele em conflito com o inimigo do Homem-Aranha. Por vezes, melhor do que se manter na ativa, é simplesmente parar. Um respiro não só permite analisar com cuidado cada convite recebido, como também evita certos constrangimentos. Como Caos e Destruição, cujo título parece mais apropriado ao que irá provocar na carreira dos envolvidos do que em relação ao que se vê em cena.


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