Calafate: Zoológicos Humanos
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Sinopse
No século XIX, vários índios, de quatro diferentes origens, eram forçados a viajar à Europa para serem apresentados em "exposições etnográficas". Os europeus pagavam pelo ingresso e o governo chileno autorizava o envio dos índios. Muitos deles morreram devido a questões sanitárias e climáticas e hoje os esqueletos da universidade de Zurique suscitam uma reflexão sobre o colonialismo e a exploração indígena. O antropólogo Peter Mason, o historiador Christian Baez e o diretor Hans Mülchi Bremer investigaram a história desse povo.
Crítica
O documentário chileno Calafate, Zoológicos Humanos parte de uma premissa cujo interesse é mais forte que a própria estrutura utilizada para desenvolvê-lo. No século XIX, diversos índios, de quatro diferentes origens, foram forçados a viajar à Europa para apresentações em "exposições etnográficas" em cidades como Paris e Berlim. Os europeus pagavam pelo ingresso e o governo chileno autorizava o envio dos nativos. A exploração do latino pelo europeu, tão comum historicamente, ganha contornos mais diretos nesse recorte da história. Muitas mortes ocorreram no trajeto entre os continentes devido a questões sanitárias e climáticas. Hoje, os esqueletos mantidos pela universidade de Zurique suscitam uma reflexão sobre o colonialismo e as agruras legadas aos povos indígenas latino-americanos. O antropólogo Peter Mason, o historiador Christian Baez e o diretor Hans Mülchi Bremer constroem a história que investiga esse povo.
Dirigido por Hans Mülchi, o filme acompanha o processo simbólico de reparação histórica por parte dos europeus. Dois pontos alicerçam o documentário: a lamentável compreensão que os homens tinham de si próprios e a crítica ao descaso do governo chileno. Ainda que válida, a abordagem política deixa a deseja em seu desenvolvimento, vindo a soar inúmeras vezes como sentimental e piegas. Equívoco que somado à linguagem cinematográfica básica faz de Calafate uma obra virtuosa nas intenções, mas não na realização documental.
Os pontos positivos do retrato antropológico servem como registro e estudo, mas dizem pouco enquanto cinema. Problema, este, que não é exclusividade de Calafate. A tecnologia digital barateou a produção cinematográfica. Nunca foi tão fácil pegar uma câmera e filmar. Sem os pré-requisitos dos gêneros ficcionais, o documentário virou sinônimo de cinema fácil, uma vez que tem se aceitado lado a lado produções efetivamente preocupadas com a linguagem e outras apenas calcadas no discurso ou no tema. O documentário não se limita a uma câmera ligada e um assunto. O trabalho de edição, roteiro e direção são tão ou mais importantes que em qualquer obra de ficção. A indistinção entre o gênero cinematográfico e o relato etnográfico é grosseiro. Talvez este seja o grande problema de Calafate, Zoológicos Humanos. Problema maior, aliás, não do filme, mas de quem o toma como pertencente a um nicho que não é o seu.
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