
Crítica
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Sinopse
Em Brick, um misterioso muro passa a cercar o prédio onde Tim e Olivia moram. O medo toma conta e a dúvida passa a ser ideia geral. Agora, a dupla precisará formar uma aliança com os vizinhos se quiserem escapar com vida. Ficção Científica/Thriller/Mistério.
Crítica
De Cubo (1997), passando por Oldboy (2003) até alcançar O Poço (2019), há longa tradição de títulos que aprisionam seus personagens em espaços fechados, em que a explicação não vem de imediato e a vigilância parece constante. Obras assim espelham – ainda que indiretamente – nossa era: marcada pela manipulação algorítmica e pela falsa sensação de liberdade. Em Brick, como o nome já indica, é um muro que se impõe à frente dos personagens, mas sobretudo diante de nós. Um obstáculo literal e simbólico, capaz de instigar não apenas a fuga, mas a reflexão sobre o que nos trouxe até aqui.
Na trama, Tim (Matthias Schweighöfer) e Olivia (Ruby O. Fee) enfrentam as rachaduras de relação que ruiu cedo demais após evento traumático. Dispostos a costurar tudo, veem-se obrigados a colaborar quando o prédio onde vivem é selado por uma estrutura que elimina qualquer rota de fuga. Portas, janelas e até mesmo frestas são bloqueadas por um muro construído com nanotecnologia, operado por uma inteligência artificial que parece conhecer cada um deles melhor do que deveriam permitir. O confinamento, nesse caso, é projetado com cálculo e frieza. Cabe a eles decifrar esse código.
Nem tudo são flores, é claro. A proposta tropeça em facilidades que comprometem parte de seu potencial desde o início, pois não é difícil deduzir que Tim, especialista em tecnologia, será peça-chave na desmontagem do sistema. Os demais – Marvin (Frederick Lau), Ana (Salber Lee Williams) e Lea (Sira-Anna Faal) – orbitam em torno do protagonista como freios narrativos, destinados a atrasar o inevitável confronto com Yuri (Murathan Muslu), figura construída com todas as marcas típicas de antagonista de ação: físico imponente, frases ásperas, olhar endurecido. As peças se encaixam depressa demais.
Enquanto o temor se alastra entre os moradores, o silêncio sobre a origem do bloqueio permite a proliferação de teorias, vozes que soam familiares em sociedade cada vez mais suscetível a explicações rasas e inflamadas. O texto, nesse ponto, insinua crítica ao uso indevido do medo como combustível ideológico. É mérito do casal central não se render a esse desvio: Olivia, ainda que interpretada em tonalidade mais apagada, acompanha Tim na recusa às respostas fáceis. Eles sabem que o conflito íntimo não pode justificar a prisão coletiva. A caixa tem uma razão, e não adianta presumir antes de investigar.
Ainda que Brick prolongue seu tempo de tela e utilize atalhos que enfraquecem o ritmo, é no sentimento de inquietação que reside sua faísca mais autêntica. Em determinado momento, o espectador também se vê duvidando do que seria a saída mais lógica – ou mesmo se há, de fato, uma saída. Entre coadjuvantes esquecíveis e frases que não sobrevivem ao eco do calabouço, há algo aqui que pulsa contra o controle absoluto. Uma fagulha de rebeldia nos tempos do enclausuramento digital. No fim, pode ser que o lado de fora não importe tanto. Importa, isso sim, reconhecer o muro e o que ele está tentando nos dizer.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 6 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Miguel Barbieri | 5 |
MÉDIA | 5 |
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