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Sinopse

Em 1967, um filme do Cinema Novo revela os subúrbios pobres de Brasília e termina proibido pelos próprios patrocinadores. Depois de uma projeção surpresa, Joaquim Pedro de Andrade decide esconder a cópia. Passados 45 anos, outra equipe de cinema procura as pistas da produção, da censura e do desaparecimento do filme para entender por que a vanguarda modernista não chegou aos subúrbios e descobrir o que realmente aconteceu com o filme proibido e a cidade interrompida.

Crítica

Em 1967, durante o Festival de Brasília daquele ano, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade apresentou o curta-metragem Brasília: Contradições de uma Cidade Nova. Durante a exibição já era possível perceber o burburinho que se formava na sala, e assim que a projeção acabou o debate se deu em ânimos exaltados, entre os que defendiam a visão crítica sobre os rumos da nova capital federal em seus primeiros anos de existência e os que atacavam essa obra pelo seu teor crítico e pouco conciliador. A polêmica foi tanta que o resultado foi a saída de circulação do filme, que simplesmente desapareceu nos anos seguintes, até que ninguém mais falasse a respeito. Atrás dessa lacuna em branco partiu o cineasta Getsemane Silva, e o resultado dessa pesquisa é o documentário Plano B, apresentado pela primeira vez dentro da mostra competitiva do 46° Festival de Brasília.

Produtor e diretor de diversos documentários em curta-metragem e para a televisão, Getsemane Silva escolheu como tema de seu primeiro longa-metragem um assunto muito caro à sua terra natal, a capital federal. E o filme se desenrola de modo bastante orgânico, partindo das origens do projeto inicial, as mudanças que o mesmo sofreu durante sua realização, o impacto que teve seu lançamento, a dura negociação com os patrocinadores e com a censura militar, que em ambos os casos foram totalmente contrários ao resultado apresentado, e, por fim, tenta desvendar o que teria acontecido durante estes 45 anos de completo esquecimento. Plano B, portanto, se posiciona como uma colcha de retalhos, um grande quebra-cabeças onde qualquer detalhe, por menor que se apresente, pode proporcionar um olhar diferenciado sobre o todo.

É o que acontece quando diretor e equipe partem em busca de um operário que teria participado da construção de Brasília e que aparece no curta dando um depoimento. Quase meio século depois, o que esse homem ainda teria a dizer sobre a cidade que nasceu de um sonho e hoje está longe do paraíso prometido? Plano B é, assumidamente, um filme de investigação, que vai, passo a passo, construindo um cenário que, assim que concluído, deverá contar com a intervenção do espectador, que, por sua vez, deverá se propor a refletir sobre os fatos revelados. É importante para isso a participação daqueles que estiveram na gênese do projeto, como Jean-Claude Bernadet (roteirista), Affonso Beato (diretor de fotografia), Joel Barcellos (produção) e Ferreira Gullar (narração). Estas pessoas contribuem, cada um à sua maneira, na tentativa de elucidar os porquês sobre este projeto encomendado por uma grande multinacional (no caso, Olivetti) ter se tornado uma obra rara, rejeitada por muitos quando pronta, e reconhecida por tantos outros décadas depois.

Plano B é um filme sobre cinema, feito por apaixonados pelo tema e indicado, principalmente, à cinéfilos. Não quer dizer, no entanto, que não seja recomendado a qualquer pessoa preocupada em refletir sobre os rumos desse país. Brasília: Contradições de uma Cidade Nova foi pensado para saudar a capital que nascia e que deveria indicar um país voltado para o futuro. Mas não foi isso que Joaquim Pedro de Andrade viu ao dar início aos seus trabalhos – sua visão, por outro lado, era de um lugar elitista, hermético e repleto de, na falta de uma expressão melhor, contradições. Sua obra provocou e, acima de tudo, incomodou muita gente lá nos anos 1960, e por isso sua consequente retirada de circulação. É provável que este documentário agora realizado não tenha o mesmo impacto e nem consiga explicar este destino, mas ao menos tenta, com digna competência, reverter a situação. O esforço é válido, e por isso sua existência já se justifica.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Francisco Carbone
4
MÉDIA
5.5

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