Bohemian Rhapsody

14 ANOS 115 minutos
Direção:
Título original: Bohemian Rhapsody
Gênero: Biografia, Drama, Música
Ano: 2018
País de origem: EUA / Reino Unido

Crítica

3.8

Leitores

Sinopse

Freddie Mercury, o vocalista da banda Queen, está em ascensão meteórica através de suas canções icônicas e sonoridade revolucionária. Sua vida começa a girar em torno de uma quase implosão do grupo quando seu estilo de vida fica fora de controle. Seu retorno triunfante será na véspera do Live Aid, quando, mesmo enfrentando uma doença que ameaçava sua vida, liderou a banda em uma das maiores performances na história do rock.

Crítica

Há dois Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. Um deles, o homem, é observado displicentemente pelo cineasta Bryan Singer, acessado com atenção e sensibilidade apenas circunstancialmente, o que leva a um painel humano quebradiço e insuficiente. O outro, a lenda, o gigante eternizado por sua impetuosidade artística, é desenhado mais acuradamente, com, inclusive, um senso estético mitificador em momentos capitais. Depois da abertura apoteótica, novamente vista à frente e por outros ângulos, o filme retrocede temporalmente para acompanhar o começo, com um solitário vislumbre do protagonista vivido por Rami Malek na labuta no aeroporto. Sem demora, ele aproveita uma oportunidade e se torna vocalista de banda, ascendendo junto com Roger Taylor (Ben Hardy), John Deacon (Joseph Mazzello) e Brian May (Gwilym Lee). O roteiro vai empilhando situações importantes, sem deter-se demoradamente em algo particularmente.

Em Bohemian Rhapsody sobressai o esforço diretivo para mostrar o Queen como um conjunto formado de quatro personalidades interdependentes profissionalmente. Mercury é a grande vedete, o catalisador dessa história de sucesso, mas, mesmo sem dar espaço às intimidades dos demais integrantes, existe a perceptível vontade de não deixa-los de lado. As discordâncias familiares, as polêmicas quando o cantor se assume homossexual, as controvérsias como um todo são abordadas com bastante insegurança, não escondidas, mas parcamente aprofundadas. Prevalece a sensação de flagrante impotência diante de tanto material. O roteiro não escolhe um ponto de convergência ou partida, buscando encarar por diversos prismas uma personalidade rica e magnética como a do vocalista de uma das bandas mais famosas do rock. Essa tentativa de abrangência acaba fazendo com que o todo careça de densidade dramática e frequentemente soe bem genérico.

Bohemian Rhapsody possui, em contrapartida, dois trunfos valiosos. O primeiro deles é a interpretação excelente de Rami Malek, que, sobretudo ao assumir o visual de cabelo curto e bigode, atua como se possuído. Ajuda quando esse esforço é devidamente valorizado pela câmera, com closes na emoção desprendida da entrega artística. Porém, nem sempre a direção demonstra sensibilidade o bastante para ressaltar a beleza desses instantes. Tal desequilíbrio pode ser entendido a partir da substituição de Singer, cineasta creditado, por Dexter Fletcher no meio das filmagens, em virtude das famigeradas “diferenças criativas”.  O segundo elemento absolutamente positivo é a disposição das canções emblemáticas do Queen. As cenas embaladas por sucessos são geralmente bem-sucedidas, com destaque para a forma como a recorrente Love of My Life amarra Mercury afetivamente à figura de sua ex-esposa, Mary (Lucy Boynton), convidando às lágrimas.

Entremeando seu andamento, somente competente, com fagulhas de brilho, Bohemian Rhapsody passa de maneira célere por episódios importantes, como a separação do Queen e a dispensa do empresário que ensaiou falar de carreira solo. Aliás, a briga do protagonista com seus colegas de palco é construída quase unicamente como fruto da influência interesseira e nefasta do amigo Paul (Allen Leech), que blinda Mercury para dele se aproveitar. O reate com a família antes de um show importante é sequer razoável para dar contornos espessos à dinâmica doméstica. Já a atuação brilhante no tablado, precedida de dolorosa revelação para seus irmãos de arte, é o ponto alto do filme, exceção feita à artificial reconstrução digital da imensidão que lotou o estádio de Wembley. Musicalmente cativante, a produção logra êxito ao falar de quem não encontrou igual sob os holofotes do rock, mas peca por se aproximar timidamente dos vários demônios do homem.

Marcelo Müller

Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *