Barry Lyndon
Crítica
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Sinopse
Reino Unido, século XVIII, a Irlanda está sendo invadida pelo exército francês e o jovem Barry é ainda um inexperiente camponês que vive com a mãe. Eis que surge o primeiro amor: sua prima Nora Brady (Gay Hamilton). A moça, ousada, provoca o primo e aguça sua obsessão. Chega então à cidade as tropas do exército inglês e junto com elas o capitão John Quin por quem Nora se interessa.
Crítica
Originalmente interessado na adaptação do romance Vanity Fair, publicado por William Makepeace Thackeray em 1847, Stanley Kubrick se convenceu de que uma versão cinematográfica de outra obra do mesmo autor, As Memórias de Barry Lyndon, de 1844, seria igualmente satisfatória para suas grandiloquentes intenções. O drama de época foi o mais próximo que o cineasta chegou de realizar sua principal ambição, um filme sobre a vida de Napoleão Bonaparte, e teve de se contentar com a ambientação numa era anterior a do líder francês, durante a Guerra dos Sete Anos.
Dividido em dois atos e um pequeno epílogo, Barry Lyndon possui grandes sequências de batalhas com exércitos, uniformes pomposos e uma profusão de pólvora interminável, porém apenas nas fazendas irlandesas, bordéis suntuosos e imponentes casas de campo que o anti-herói e personagem-título do filme é verdadeiramente revelado. Suas lutas, duelos, apostas e seduções o direcionam para o sucesso e provável derrocada enquanto sublinham as artimanhas de um alpinista social do século 18.
Como é recorrente na filmografia de Kubrick, célebre por inovações técnicas como os efeitos visuais de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) e a inacreditável steadicam de O Iluminado (1980), a fotografia visionária de Barry Lyndon, supervisionada por John Alcott, entrou para a história do cinema. Com sequências inteiras filmadas sem o recurso de luz elétrica, Kubrick compôs quadros estupendos que transpõem o chiaroscuro das obras renascentistas para sua tela, iluminada exclusivamente por velas. Alcott compartilha a magnitude de Barry Lyndon com os irretocáveis trabalhos de direção de arte e figurinos e a trilha sonora épica de Leonard Rosenman, todos merecidamente oscarizados.
Apesar das inegáveis qualidades técnicas e plásticas, a atmosfera, narrativa e atuações em Barry Lyndon soam artificiais e datadas. Ainda que o resgatem e elevem seu status como a obra essencial de Kubrick, como classificou Martin Scorsese, o filme não possui a mesma permanência e significância de trabalhos como Laranja Mecânica (1971) e Nascido Para Matar (1987). Ryan O’Neal e Marisa Berenson, em performances monocórdicas, dificultam a empatia necessária entre espectador e seus personagens para tornar a experiência com a sessão mais envolvente. Em determinado momento, a constante aparição de figuras de época contra ambientes deslumbrantes remetem a bonecos de cera que vulgarizam toda a suntuosidade visual da produção.
Uma forma singular nunca é suficiente para suprimir um conteúdo errático. Seja pela narração inoportuna que apenas reitera o que as imagens apresentam, na lentidão de passagens insignificantes da vida de Lyndon ou pela desnecessária duração de exatas três horas, o filme de Kubrick se perde em toda sua pretensão. Apontada por críticos e admiradores como a obra mais negligenciada da carreira de Kubrick, a experiência com Barry Lyndon apenas reitera e justifica tal condição.
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