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Sinopse
Em Balada de Um Jogador, Lord Doyle vive escondido em Macau, lutando para escapar das dívidas e de um passado que insiste em alcançá-lo. Refugiado entre cassinos e ilusões, ele conhece Dao Ming, uma mulher misteriosa que pode oferecer uma chance de redenção - se suas apostas não o destruírem antes. Crime/Drama.
Crítica
Edward Berger rapidamente se consolidou como diretor capaz de manejar tramas grandiosas. Após o Oscar de Melhor Filme Internacional por Nada de Novo no Front (2022) e a revelação dos bastidores do Vaticano em Conclave (2024) – além de já ter projeto em andamento com um Mr. Hollywood: Brad Pitt – poderia parecer que Berger só se interessa por narrativas de grande fôlego e impacto global. No entanto, desde os anos 1990 ele já dirigia longas mais introspectivos, como Gomez: Kopf Oder Zahl (1998) e Jack (2014), mostrando que a dimensão íntima sempre foi parte de seu repertório. Balada de Um Jogador, sua aposta mais recente, lançada com divulgação discreta, confirma essa faceta, mostrando que ele ainda se interessa por explorar a complexidade de personagens e situações mais contidas. A questão que se coloca é se, mesmo nesse contexto, ele ainda consegue se afastar de seu impulso por gigantismos narrativos?

Na trama, Lorde Doyle é um jogador profissional de cassinos e jogos de mesa, transitando entre poker, bacará e roleta, sempre apoiado na eloquência, no blefe e, acima de tudo, na sorte. Quando a maré vira, porém, esse homem elegante e altivo se vê cercado pelo azar, acumulando dívidas e sendo perseguido tanto por credores quanto pela lei. Dividindo seu tempo entre hotéis/cassinos de Macau, Doyle descobre que suas estratégias e habilidades não são suficientes para escapar de uma sequência de infortúnios, e é nessa tensão que o filme encontra seu impulso dramático, explorando o impacto psicológico e emocional de alguém cuja vida é regida pelo risco constante.
Para conduzir essa história, Berger conta com Colin Farrell, que entrega mais uma performance intensa na persona de Doyle. O astro irlandês, indicado ao Oscar, dá vida a protagonista que nos primeiros minutos parece imperturbável, mas cujos conflitos internos se revelam gradualmente. Farrell transita com naturalidade entre medo, culpa, esperança e desgraça, sustentando o caminho proposto pelo roteiro de Rowan Joffe (Um Homem Misterioso, 2010), adaptado do romance homônimo de Lawrence Osborne. A atuação transmite a complexidade de homem que tenta manter a compostura enquanto sua vida se fragmenta, tornando-o crível e cativante mesmo em momentos de extrema vulnerabilidade.
Mas o desafio de Colin se intensifica pelo próprio design do filme, que estabelece paralelos entre sorte, azar e redenção. Cada rodada de cartas, cada aposta, é microcosmo da narrativa maior: até que ponto a sorte existe de fato? Quando o azar se torna inevitável? E seria a ganância humana, mais do que qualquer força exterior, o verdadeiro fator determinante? A tensão cresce à medida que Doyle tenta virar o jogo, e o espectador é arrastado junto, torcendo pela redenção de um homem que parece incapaz de abandonar seus vícios e obsessões, tornando a experiência tanto psicológica quanto visualmente envolvente.

No entanto, embora Berger mantenha firme o olhar sobre seu protagonista, o entorno nem sempre acompanha sua intensidade. Personagens como Dao Ming e Blithe, interpretados por Fala Chen e Tilda Swinton, aparecem subexplorados, funcionando mais como figuras de luxo ou exotismo do que como parceiros de trama, e sua presença não acrescenta profundidade real à história. Em Balada de Um Jogador, Berger oscila entre o drama íntimo, o misticismo e a narrativa de cassino, sem conseguir integrar completamente esses elementos. Apesar da sofisticação estética e da beleza formal do longa, falta-lhe um certo “espírito” que pudesse amplificar o impacto da entrega de Farrell, deixando a impressão de que o estilo supera a substância, e que o brilho do protagonista é o único elemento que mantém a atenção do espectador.
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