Crítica

Arthur Martinez é um reparador de computadores por profissão e ator nas horas vagas. Sempre coadjuvante nos poucos papéis que já encarnou no cinema, Arthur decide contratar dois diretores nada ortodoxos para comandar um filme com ele, sobre ele e produzido por ele. Os cineastas em questão são Nathan Silver e Mike Ott e o resultado dessa maluquice é Ator Martinez.

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Lógico que, por mais que pareça real, tudo é encenado no longa-metragem. Ao menos, achamos que é. Ou não. O embaralhamento do que poderia ser verídico com o que poderia ser imaginário é uma das grandes qualidades do longa-metragem. O filme dentro do filme, não raro, se espalha no que deveria ser bastidor – e vice-versa. Os diretores/atores acabam por nos convencer de que projeto está acontecendo em frente aos nossos olhos, quando sabemos (ou inferimos) que tudo ali existe por um propósito.

No começo do filme, Silver e Ott percebem que Arthur está atuando em sua zona de conforto. Para tirá-lo desse fácil caminho, resolvem contratar uma atriz para interpretar sua namorada. Depois de testes e uma escalação infrutífera, Arthur e os diretores resolvem contratar uma intérprete mais experimentada, com algum nome que trouxesse peso ao longa. Lindsay Burdge é escolhida para viver este interesse amoroso – que tem em seu currículo Frances Ha (2012) e 6 Anos (2015) dentre seus trabalhos mais conhecidos. Logo ela começa a se envolver demais no processo e a deixar suas emoções serem afetadas pelo modo pouco humano que os cineastas conduzem o filme.

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Arthur Martinez se junta a uma gama de personagens perdidos saídos da cabeça de Nathan Silver. Como acontece em suas produções, os protagonistas sempre têm dificuldade em pertencer a algum lugar, serem bons em algo. Martinez, o personagem, sonha com a fama e fortuna, mas simplesmente não tem talento para o negócio. Curiosamente, ainda que no filme ele seja desajeitado, sua atuação como “ele mesmo” é soberba, nos fazendo crer em toda a sua inadequação.

Lindsay Burdge é uma adição forte ao elenco e constrói uma atriz esforçada, sensível e que defende o que acredita. Sua atitude ao final condiz totalmente com a personalidade criada para ela, ainda mais depois da sensacional “cena de amor” – da qual é avisada em cima da hora. Sua reação é muito crível e mostra um pouco do que atrizes podem passar nas mãos de diretores inescrupulosos. Falando nisso, eles parecem não temer serem tachados de irascíveis depois daquela versão deles mesmos concebida em Ator Martinez. Se algum ator assistir ao filme e acreditar na veracidade da história, talvez eles tenham dificuldade em escalar seus próximos trabalhos.

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Com diálogos interessantes – as vezes sobre nada, personagens desajeitados e uma vontade de fazer o diferente, Nathan Silver e Mike Ott fazem uma fantástica e amalucada comédia dramática, ideal para os fãs de uma boa história com pegada indie.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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