Aracati
Crítica
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Sinopse
Vale do Jaguaribe, Ceará. Seguindo a rota do vento Aracati, o filme parte do litoral e adentra pelo interior do estado. Nesse percurso, observa a relação entre homem e paisagem, as transformações do espaço e os limites entre natureza e artifício.
Crítica
Tornar o invisível visível. Este é o desafio nada simples de Aline Portugal e Julia de Simone ao seguir o rumo do vento Aracati, no Ceará. Partindo do litoral em direção ao interior do estado, a dupla constrói o apropriadamente intitulado Aracati, um documentário que capta a influência da natureza junto à cultura local.
Enquanto cinema de observação, o filme tem dois momentos. No primeiro deles, iniciado pelo lançamento de um balão, as diretoras optam por tornar concreta a ideia do protagonista abstrato. Ajudadas pela ótima fotografia de Victor de Melo e o trabalho de som atencioso de Marco Rudolf, Aracati cria a imagem que carrega no título. O vento surge, então, nas torres eólica e nas sombras dos movimentos. Ele está ali também quando a motocicleta cruza o vazio da estrada nordestina e ao dar ritmo às ondas da água. Construído em tempo próprio, propício para que o público possa recriar sensorialmente o elemento do qual trata, o filme tem em seu momento inicial um projeto visualmente vigoroso, que avança com fluência estética.
A transição como elemento integrante e modificador do espaço social toma forma ao se aproximar dos habitantes da região. Apesar de passagens com humor e interessantes, como a resposta inesperada de que o vento dos cearenses estaria ali para espalhar-lhes as mágoas, dando visão poética à desatenção dos sucessivos governos, o longa enfraquece o projeto estético inicial. Os planos bem construídos e a simetria rítmica imposta anteriormente dão lugar a declarações em sua maioria pouco reveladoras. O vento ainda age no riacho que precisa ser limpo das folhas ou no chapéu que voa, contudo isso não são marcas fundamentais do Aracati, mas de qualquer vento a soprar.
Aracati é um projeto extremamente ambicioso, em especial no que diz respeito à forma do mostrar e do objeto que mostra. Como acompanhar um vento e criar uma narrativa que o torne digno de estar em tela? Sem conseguir contemplar a resposta por completo, Aline e Julia conseguem uma série de conclusões que permitem ao filme de pouco mais de uma hora uma série de passagens originais e potentes.
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