Aloys
Crítica
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Sinopse
Aloys, um solitário investigador particular, é contratado por uma misteriosa mulher que o leva a um jogo mental conhecido como “telefone andante”. Fascinado por sua voz, ele descobre um universo imaginário que o permite sair de seu isolamento.
Crítica
Primeiro longa-metragem do cineasta suíço Tobias Nölle, Aloys é uma produção que flerta muitíssimo com as realizações de Spike Jonze e de Charlie Kauffman ao retratar a história do introspectivo Aloys Adorn (Georg Friedrich), um detetive particular que tem o hobby de fazer pequenas filmagens de seus investigados e de alguns transeuntes. Após o falecimento do pai, sua fama de esquisitão e recluso aumenta ainda mais. Mas tudo está prestes a mudar com a chegada de uma vizinha que rouba suas fitas e o fará desbravar o mundo do qual é apenas observador.
Com tons surrealistas, Nölle registra a depressão do personagem-título após a perda do pai e também a angustiante vivência da vizinha, Vera (Tilde von Overbeck). A ligação entre eles se dá por meio da doença e da busca de equilíbrio que surge num viés sensorial, com pequenos jogos induzidos pela garota. Ela, aos poucos, faz com que Aloys revisite seus investigados e também conviva melhor com outras pessoas. O roteiro reitera seguidas vezes a necessidade do personagem de se desfazer da solitude dos seus dias e essa invasão do mundo exterior à privacidade exagerada construída por ele.
Com ótimas atuações de Friedrich e von Overbeck, Aloys é uma dramédia na medida, com força e originalidade, mesmo claramente inspirada em estéticas similares já pré-existentes. Dentro da cinematografia franco-suíça na qual está inserida, é uma realização refrescante e carismática. Se em alguns momentos a trama parece um pouco arrastada para o que se propõe, afinal uma força externa decide invadir a pacata privacidade de Aloys, sendo esperada alguma ação constante que não se apresenta, logo isso é justificável devido ao belo desenvolvimento que dá às atuações de seus atores. São as nuances das interpretações, aliadas aos diálogos contidos, que permitem a Nölle fazer o imprescindível e mostrar mais em imagens que em monólogos exageradamente verborrágicos. E isso, mesmo nas cenas em que Aloys e Vera só se comunicam através de ligações.
Fantasia que busca dialogar com o sensorial da depressão e de seu universo de dificuldades e instabilidades, não ganhou à toa o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema, a FIPRESCI, no Festival de Berlim deste ano. Aloys é arrojado em sua abordagem, esteticamente bonito e entrega boas cenas - incluindo um hilário número musical -, conferindo muita dignidade aos seus complexos personagens. Utilizar um âmbito fantástico para tratar de um tema tão forte e impactante o coloca lado-a-lado dos filmes de Kauffman e Jonze, apesar da distância cultural e dos idiomas distintos.
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