A Viagem de Yoani

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Sinopse

A Viagem de Yoani: A blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez é uma personagem polêmica. Alguns dizem que ela é uma agente da CIA, outros que ela é uma lutadora pela liberdade de expressão. Yoani mantém um blog com milhões de views por mês, no qual faz duras críticas ao governo cubano, e que a tornou famosa e sobre o qual fala em viagens para outros países. Em 2014, Yoani visitou o Brasil, onde foi bem-recebida por opositores do socialismo, mas também duramente criticada por alguns movimentos sociais. Documentário.

Crítica

No ano de 2013 houve uma determinação durante o processo de afrouxamento da ditadura cubana em que, a partir daquele momento, qualquer cidadão do país poderia viajar para o exterior e posteriormente regressar ao país-natal sem enfrentar uma imensa burocracia ou impedimentos das mais diversas ordens. Uma das favorecidas pela diretriz foi a jornalista Yoani Sánchez, que decidiu empreender sua primeira visita ao Brasil – o país que escolheu para conhecer antes de qualquer outro. O registro dessa jornada está em A Viagem de Yoani, uma coprodução internacional que tem como objetivo mostrar o impacto de sua passagem por aqui.

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Mas, afinal, quem é Yoani Sánchez e por quê sua presença poderia motivar tamanha polêmica e controvérsia a ponto de merecer este tipo de documento? Yoani, com pouco mais de trinta anos de idade, criou em sua própria casa – e sem acesso à internet, veja só – o blog Geração Y, que hoje é um dos mais acessados em todo mundo. Suas postagens eram feitas de modo estudado e após muita engenharia para se sobrepor ao controle estatal. E sua pauta tinha como prioridade registrar seu cotidiano em Cuba e expor críticas ao regime. Como resultado, ganhou fama e repercussão internacional. Em pouco tempo, para se ter uma ideia, ela foi eleita pela revista Time, nos Estados Unidos, uma das 100 pessoas mais influentes de todo o mundo.

Isso motivou os diretores Peppe Siffredi e Raphael Bottino a dar início a este projeto de documentário. Ele começou em 2009, quando o blog de Yoani era bloqueado na ilha e ela lutava pelo direito de viajar para receber as diversas nomeações e premiações que começou a ter direito e reconhecimento nos cinco continentes. A passagem pelo Brasil teve como ponto de partida um convite do então Senador da República Eduardo Suplicy. Ao seu lado, passou por Feira de Santana, na Bahia, Brasília e São Paulo. E em todos estes lugares a recepção foi praticamente a mesma: tapete vermelho e tratamento vip por parte dos anfitriões, ao mesmo tempo em que do lado de fora – e muitas vezes de dentro mesmo – uma turba significativa se reunia para protestar contra sua pessoa. De um lado, exemplo da luta contra a repressão. Do outro, símbolo ianque do imperialismo patrocinado pelo capitalismo desenfreado. Quem, afinal, tem razão?

Em certo ponto, após ouvir muitas críticas, Yoani apenas pergunta ao seu atacante: “quando foi a última vez que você esteve em Cuba?”. A resposta, como se pode imaginar, é bastante óbvia: “nunca estive lá”. Quem vocifera contra ela são estudantes e militantes do contra, a grande maioria radicais mais dispostos e gritar e menos a ouvir qualquer argumento que lhes soe contrário às suas crenças arraigadas. Yoani, portanto, é sábia em não embarcar em discussão alguma, pois como discutir uma realidade com quem nunca a vivenciou na pele e da qual partilha uma noção apenas teórica? No entanto, os diretores não compram tão facilmente um lado ou outro, e quando mostram como a blogueira, por desconhecimento ou ingenuidade, passa a ser usada por nomes como Jair Bolsonaro e outros, a desconforto é visível: afinal, o que ela tem a dizer merece mesmo ser ouvido?

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A pesquisa que o filme apresenta é pertinente, e muitos dos argumentos levantados suscitam à discussão. De onde vem seus recursos? Seria ela subsidiada por forças internacionais organizadas contra o comunismo cubano? Ou seria ela apenas uma voz solitária que representa tantas outras em igual condição? Como foi possível ela ganhar em questão de meses prêmios milionários como aquele que Gabriel Garcia Marquez levou 14 anos para merecer? Seu trabalho possui valor, ou apenas uma posição privilegiada? Os elementos são muitos, e A Viagem de Yoani não faz questão de escondê-los. Porém não se esforça também em ordená-los nem em dar o assunto por encerrado. O tema, portanto, tem um bom ponto de partida aqui. Mas está longe de se bastar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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