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Sinopse

Intrigas, confabulações e rivalidades marcam um importante período da história europeia. Anne e Mary são conhecidas como as irmãs Bolena. Movidas pela ambição da família, competem pelo amor do Rei Henrique VIII.

Crítica

Drama histórico ou novelão de final de tarde? Infelizmente, apesar das expectativas envolvidas, A Outra está muito mais para o segundo caso do que para o primeiro. Ao narrar o episódio verídico do envolvimento das duas irmãs Bolena com o rei Henrique VIII, da Dinastia Tudor (que foi resgatada também recentemente numa comentada minissérie), o longa que marca a estréia na direção de Justin Chadwick (veterano da televisão inglesa) apela mais para o melodrama e para uma pouco elaborada estrutura dramática, frustrando aqueles interessados em conhecer melhor o passado real britânico.

Ana e Maria são duas jovens do interior da Inglaterra. O tio delas, porém, mora na Corte e é amigo íntimo do Rei. Quando o primeiro filho homem deste nasce morto, começam a surgir boatos que o homem mais poderoso do reino passará a procurar uma nova amante. E aí está a oportunidade de ouro para as duas belas irmãs – mesmo que contra a vontade delas. A ideia inicial era apresentar Ana, a mais velha. Mas após um primeiro contato equivocado, é Maria (mesmo recém casada) que cativa a atenção do monarca. E por isso toda a família acaba se mudando para o Palácio Real.

Ana é enviada para França, e quando retorna é uma nova mulher. Essa mudança desperta o interesse de Henrique, que mesmo tendo engravidado Maria começa a desprezá-la. Ele fica praticamente hipnotizado por Ana, e essa foi também a causa de sua desgraça. Por ela, ele consegue a anulação do primeiro casamento, com a espanhola Catarina de Aragão, provoca o rompimento com a Igreja Católica e funda uma nova religião, a anglicana. Maria, mesmo mãe de um menino – bastardo, porém – é banida e enviada para o interior. E Ana consegue tudo o que sempre almejou – o rei, a coroa, o país – mesmo que não da forma que havia imaginado. E quando dá a luz a uma menina – Elizabeth, que viria a ser a grande líder do Reino Unido (e interpretada por Cate Blanchett em dois aclamados filmes) – sua tragédia só tende a aumentar. Até o final mais terrível possível.

Ao invés de narrar estes acontecimentos com sutileza e sabedoria, Chadwick prefere investir no exagero e na ostentação. Os cenários e figurinos, belíssimos, são tão perfeitos que tendem ao artificial. A edição é um desastre, atropelada e sem nenhum estudo por trás, simplesmente despejando um acontecimento atrás do outro. Não há reflexão, desenvolvimento ou mesmo deleite. Tudo é muito rápido e contínuo, revelando uma preocupação exagerada em narrar cada fato singular, sem eleger o que realmente é necessário ou não.

Já o desempenho do elenco é outro problema. Apesar de estonteantemente belas, Natalie Portman (Ana Bolena) e Scarlett Johansson (Maria Bolena) não são escolhas felizes para os papéis que desempenham. Começa pela falta de semelhança física – ou alguém consegue acreditar nas duas como irmãs? E como não há direção nenhuma referente aos seus desempenho, elas aparecem perdidas, sem saber para que lado seguir. Natalia sai-se um pouco melhor – é uma atriz mais experiente e capaz – mas mesmo assim tem momentos bem constrangedores. Scarlett, por outro lado, devia se restringir a trabalhar somente com Woody Allen. Ao menos ele consegue controlá-la. Eric Bana (Henrique VIII) tem a voz perfeita e o porte de um conquistador, mas não consegue transmitir a inteligência que o líder de um estado deve possuir. Ou ao menos aparentar. É mais um maníaco sexual revoltado e raivoso do que um homem preocupado com o futuro do seu povo. Por fim há Kristin Scott Thomas, Jim Sturgess e David Morrisey, todos em pequenas participações e em atuações nada equilibradas. Kristin é uma dama, e mesmo com pouco tempo em cena consegue mostrar muito bem a indignação de uma mãe ultrajada. Sturgess não faz absolutamente nada, enquanto que Morrisey comprova de vez ser um dos piores intérpretes da atualidade.

A Outra pode ser considerado um desperdício em qualquer âmbito de análise. Não funciona como painel histórico – a impressão que se tem é que os dramas da realeza não passavam de confusões de alcova – nem como entretenimento. Longo, confuso e sem um foco preciso na narrativa, assumindo a cada novo instante um diferente foco de interesse – Ana é vilã ou mártir, Maria é vítima ou manipuladora, Henrique é um tolo atrás de um rabo de saia ou um homem preocupado com sua nação? – o filme termina com um gosto amargo, numa tentativa pífia de mostrar que sua relevância é maior num contexto mais amplo – com a introdução de Elizabeth, a futura líder inglesa. Mas aí é tarde demais, e todo interesse que ainda mantínhamos foi-se há um bom tempo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Chico Fireman
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MÉDIA
4

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