
A Lenda de Ochi
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Isaiah Saxon
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The Legend of Ochi
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2025
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EUA / Finlândia / Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
A Lenda de Ochi: Em uma vila remota nos Cárpatos, uma tímida garota de fazenda chamada Yuri foi criada para temer uma espécie animal conhecida como Ochi. Mas, quando ela descobre que um bebê Ochi ferido foi abandonado, ela parte em uma aventura para levá-lo para casa. Aventura/Fantasia.
Crítica
Desde que E.T.: O Extraterrestre (1982) encantou plateias ao redor do mundo, surgiram incontáveis variações de um mesmo ponto de partida: a improvável amizade entre criança e criatura fantástica. Títulos como Gremlins (1984), Pequenos Guerreiros (1998) e Lilo & Stitch (2002) beberam dessa fonte fértil, muitas vezes misturando ternura e ameaça em doses milimetricamente calculadas. Em A Lenda de Ochi, dirigido por Isaiah Saxon, esse reencontro com a tradição ganha contornos inusitados: aqui, o vínculo entre humano e criatura se forma em meio a uma atmosfera brutal, onde a violência é tema educacional. O espetáculo visual é evidente, mas o que se esconde sob suas texturas?
Na trama, Yuri (Helena Zengel) é criada por Maxim (Willem Dafoe), homem endurecido que impõe regras severas, entre elas, a de nunca sair após o anoitecer. Isso porque os Ochi, habitantes da floresta, são vistos como ameaça iminente. No entanto, quando um filhote desses seres é deixado para trás, Yuri desafia os limites que lhe foram impostos e parte para reconduzi-lo à sua origem. É uma jornada de confronto, não apenas com criaturas fantásticas, mas com a autoridade paterna e com as verdades absolutas que regem sua criação. A inquietação da menina move a engrenagem do enredo, e a presença constante do perigo é o combustível que tensiona cada passo.
Saxon investe em protagonista marcada pela ausência materna e pela sensação de deslocamento, moldando figura jovem que busca respostas em mundo que só lhe oferece rigidez. Zengel, que já havia demonstrado potência em Die Tochter (2017) e Transtorno Explosivo (2019), reforça seu domínio sobre personagens temperamentais, guiados mais pela intuição do que pela lógica, e sustenta com vigor a travessia emocional proposta. Ao seu lado, criaturas hostis, apenas à primeira vista, revelam camadas insuspeitas de humanidade – ou algo próximo disso – pois há, nesse atrito entre opostos, possibilidade de entendimento silencioso, quase selvagem, que se impõe como o verdadeiro coração da narrativa.
O roteiro de A Lenda de Ochi, porém, revela-se menos robusto do que suas imagens sugerem, pois a jornada de Yuri, embora embalada por paisagens de rara beleza e sonoridades cativantes, pouco acrescenta além da missão de devolver o Ochi ao seu grupo. Mesmo a revelação tardia sobre sua mãe, esperada como clímax emocional, surge de maneira contida e sem a intensidade dramática que a premissa prometia, ainda que o trabalho de Zengel confira densidade ao que poderia ser apenas mais uma aventura juvenil. Quando se percebe tudo que gira em torno dessa conexão improvável, algo do encanto original – lá dos anos 1980 – até retorna, mas por instantes breves.
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