Crítica

Após passar anos como a milionária mimada Serena, protagonista da série Gossip Girl (2007-2012), Blake Lively tem o personagem mais difícil de sua carreira em A Incrível História de Adaline. E não que a moça não tenha tido oportunidades antes, afinal, já atuou sob o comando de diretores de prestígio, como Oliver Stone e Ben Affleck. Mas ainda que seu trabalho de maior popularidade até o momento tenha sido o micado Lanterna Verde (2011) – que ao menos serviu para ela conhecer e casar com o colega Ryan Reynolds – aqui ela é convocada a doar verossimilhança a mulher bastante especial, dona de uma característica muito singular: ela simplesmente não consegue envelhecer. E a despeito do tom um tanto monocórdio da atriz, sua elegância e carisma acabam funcionando dentro do proposto pelo roteiro.

Adaline Bowman (Lively) é uma mulher como tantas outras – na virada do século XX. Após perder o marido ainda muito cedo, ela sofre um acidente de trânsito que acaba lhe tirando a vida. Essa condição, no entanto, dura poucos minutos. Uma conjunção de fatores inexplicáveis – que ainda assim tentam ser justificados através de uma narração em off supostamente científica – lhe trazem de volta praticamente intacta. O ‘quase’, aqui, é que acaba fazendo a diferença. Como consequência por ter passado por esta experiência, suas células se recusam, a partir daquele momento, a envelhecerem como as de todas as demais pessoas do mundo. Assim, ela seguirá vivendo, mas sua aparência será eternamente a deste dia, quando tinha 29 anos de idade.

Ainda que parta deste pressuposto um tanto absurdo, o diretor Lee Toland Krieger (Celeste e Jesse para Sempre, 2012) em nenhum momento o trata com deboche ou incredulidade. A confiança que tem na história que está contando é tamanha que acaba sendo transmitida aos espectadores, que logo passamos a aceitar os elementos do argumento como, no mínimo, plausíveis. Contribui também para isso detalhes preciosos, como uma cuidadosa direção de arte, uma fotografia calorosa e afetiva e atores que defendem com vontade seus personagens. E isso não é mérito apenas da protagonista, mas também dos coadjuvantes de luxo que são colocados ao seu lado, como o neo-galã holandês Michiel Huisman e os veteranos Harrison Ford e Ellen Burstyn.

Decidida a não se tornar objeto de estudo do governo, Adaline precisa, no mínimo uma vez a cada década, assumir uma nova identidade e mudar de residência. Assim vai seguindo sua existência, sem se ligar a nada nem ninguém. A única que sabe da verdade é a filha (Burstyn, vivendo pela segunda vez consecutiva, após Interestelar, 2014, uma mulher mais velha que os próprios pais). Porém, o peso dos anos começa a cansá-la, e quando um jovem e atraente rapaz surge no seu caminho (Huisman), ela passará a questionar suas decisões anteriores e a se perguntar se não estaria na hora de tentar dividir seu fardo com alguém. Mas, da forma mais inesperada possível, alguém do seu passado irá reaparecer em seu caminho. E por mais improvável que possa parecer, ele terá certeza da identidade dela, mesmo que mais de quarenta anos já tenham transcorridos. E a ela caberá revelar a verdade, podendo assim perder tudo e todos que conquistou até aquele momento, ou simplesmente seguir fugindo.

É um prazer ver Harrison Ford em um papel que foge do seu padrão habitual, e a presença de Burstyn, por menor que seja, é sempre radiante. Huisman convence com o tipo atlético e o olhar apaixonado, enquanto que Lively é pura simpatia e refinamento, características que funcionam a seu favor neste caso. Mas o que faz A Incrível História de Adaline ser mais do que um mero conto de fadas genérico é mesmo a sensibilidade do realizador, que conduz sua trama com segurança e dedicação, fazendo uso de todos os elementos ao seu dispor para evitar os clichês mais recorrentes do gênero e trazer a audiência para o seu lado, evitando que ela se perca em enredos paralelos desnecessários. Bonito, comovente e dotado de rara delicadeza, este é um filme que não tem vergonha de ser assumidamente romântico. E, com isso, consegue tornar seus defeitos em qualidades, em uma mágica em que os envolvidos, independente do lado da tela em que estão, só tem a ganhar.

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