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Paris é comumente considerada a cidade do amor, logo cenário propício para grandes romances. Em virtude dessa fama da capital, a França como um todo acabou virando símbolo dos apaixonados. E o cinema é um dos principais responsáveis por tal reputação. Belas histórias de amor já saíram das telas francesas, das simples às complexas. Ou quem há de duvidar que, por exemplo, Acossado (1960), Jules e Jim: Uma Mulher para Dois (1961) ou mesmo Um Homem, Uma Mulher (1966), para citar apenas três entre vários, não são, no fim das contas, exemplos de paixões avassaladoras, ainda que entremeadas por outros temas e sem finais felizes? Mas o foco do Top 10 desta semana no Papo de Cinema, pegando carona na estreia de Romance à Francesa (2016), são as odes mais frontais ao amor, aqueles longas-metragens que, também, os franceses tão bem sabem produzir. Confira nossa seleção.

 

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Os Guarda-Chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg, 1964)
Homem dos sentimentos, Jacques Demy nunca encontrou o devido espaço no cinema francês. Na falta de um grupo ao qual pertencer, criou um. Nele, a música deixa de ser acompanhamento para o enredo e passa a dividir o protagonismo com os personagens principais. Este longa-metragem é o exemplo mais conhecido dos seus musicais afrancesados. No drama musicado pelo excepcional Michel Legrand, tal qual uma opereta, o jovem mecânico Guy Foucher (Nino Castelnuovo) se envolve com a linda vendedora de guarda-chuvas Geneviève (Catherine Deneuve). Apaixonado, o casal percebe que o futuro desse amor corre risco com a desaprovação da mãe dela e o recrutamento de Guy para a guerra na Argélia. A vida toma contornos sérios. É preciso escolher entre esperar ou seguir em frente. Muitos viram na exuberância da realização, de cores fartas e estridência sentimental, um sinal de que Demy estava descomprometido com o cenário da época. A política dos sentimentos, porém, sobreviveu às críticas, ao tempo e se transformou em um dos melhores musicais já realizados. O bom é sempre urgente. – por Willian Silveira

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Beijos Proibidos (Baisers Volés, 1968)
Quem desconhece a filmografia de François Truffaut talvez não saiba, mas Antoine Doinel é seu alterego e personagem de alguns de seus longas-metragens, desde o primeiro, Os Incompreendidos (1959). O mais interessante é que, de cinco em cinco anos (aproximadamente), acompanhamos a trajetória de Doinel em tempo real, inclusive seu amadurecimento (ou não) no que diz respeito às relações amorosas. Pois neste título em questão, o terceiro estrelado por Antoine, vemos que pouco mudou em sua personalidade em quase dez anos, ainda que ele tenha sido expulso do exército, demitido de um hotel ou virado assistente de detetive. É justamente aqui, num caso em que trabalha com Henri (Harry-Max), que ele se apaixona por Fabienne (Delphine Seyrig), a esposa infiel do cliente. Mas não espere um clichê de comédia romântica atrás do outro, até porque o protagonista tem uma linha de pensamento tão excêntrica que acaba causando várias situações engraçadas, mas não menos apaixonantes, na tentativa de solucionar o sentimento pela mulher. Uma das melhores obras de Truffaut, inclusive indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e, acima de tudo, uma bela história de paixão, daquelas que só os franceses conseguem contar de maneira tão própria. – por Matheus Bonez

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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, 2001)
Este talvez seja filme francês mais celebrado da modernidade. A história da aparentemente (e apenas na aparência) ingênua Amélie Poulain (Audrey Tautou) conquistou o mundo com sua fotografia peculiar (dirigida pelo excelente e, infelizmente, pouco conhecido Bruno Delbonnel), sua trilha requintada e a criativa trama que envolve toda sorte de figuras e situações. Vindo de uma investida problemática na série Alien, o cineasta Jean-Pierre Jeunet, do igualmente delicioso Delicatessen (1991), volta a empregar uma narrativa teatral que ressalta as excentricidades dos personagens que – pelo visto – sua mente não tem limites para continuar criando. É a essas figuras que Amélie dedica o seu tempo, tentando reparar suas vidas e aprender com elas. O romance é o que move a jovem protagonista numa dessas tarefas, quando decidida a encontrar um homem misterioso que coleciona imagens perdidas de cabines fotográficas. Com a técnica refletindo a visão fantasiosa que a moça tem do mundo, o filme consegue com muita facilidade levar o espectador a embarcar em seus sentimentos extremos e nas suas ideias incomuns, mesmo quando envolvem essas bizarrices. Apaixonante por si só, o longa-metragem é a história de diversos romances e relações que se cruzam sob a perspectiva de uma personagem única. – por Yuri Correa

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Amar Não tem Preço (Hors de prix, 2006)
Uma garota oportunista ronda locais onde transitam ricaços, em busca de aventuras amorosas. Ela quer subir na vida, para isso utilizando seus charme e sensualidade. Interpretada por Audrey Tautou, porém, essa jovem de sorriso fácil é vitimada pela ironia do destino, que coloca em seu caminho um pobretão atendente de bar, vivido por Gad Elmaleh, logo por ela confundido com um milionário. Desfeito o mal entendido, o saldo é Iréne em busca de um novo alvo de bolsos cheios e Jean completamente apaixonado. O longa-metragem do diretor Pierre Salvadori é declaradamente inspirado em Bonequinha de Luxo (1961), realização de Blake Edwards que imortalizou a figura de Audrey Hepburn. Aliás, se comparadas as Audreys, Tautou perde em encanto e sofisticação, mas deixa pouco a desejar no que diz respeito à construção de uma figura ilusoriamente firme em seus propósitos materiais, que cada vez mais se rende aos desígnios de um amor verdadeiro surgido fortuitamente em meio a objetivos de ordem prática, que, a priori, nada têm a ver com as coisas do coração. A dinâmica que a atriz francesa estabelece com seu parceiro de cena, o ótimo Elmaleh, garante a nossa torcida para um desfecho feliz, nesta comédia romântica adocicada e simpática. – por Marcelo Müller

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A Bela Junie (La Belle Personne, 2008)
Aos 16 anos, um acontecimento trágico altera a rotina de Junie (Léa Seydoux), que a faz deixar a casa dos pais e ir morar com os avós. A mudança de cidade leva a outro colégio. No novo liceu, a aluna recém-chegada torna-se símbolo de mistério, impactando os colegas de classe com uma expressão de olhar melancólico e silêncio enigmático. O desconhecido causa atração arrebatadora no ingênuo colega Otto (Grégoire Leprince-Ringuet), mas atinge também o experiente professor de italiano Jacques Nemours (Louis Garrel). Movidos em parte pelo estranho, em parte pela beleza, ambos apresentam duas formas diferentes de amor na tentativa de romper as geleiras que cercam o coração de Junie. Drama construído sobre as bases do intimismo e da contenção da mise-en-scène, o filme consegue atualizar com sucesso a obra-prima de Madame La Fayette, A Princesa de Clèves, escrita no distante século XVII. Após dois bons longas-metragens de circulação restrita, Em Paris (2006) e Canções de Amor (2008), foi com um filme de densidade psicológica e força estética inegáveis que o diretor Christophe Honoré viu seu trabalho ser finalmente reconhecido internacionalmente. – por Willian Silveira

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Como Arrasar um Coração (L’arnacoeur, 2010)
Romain Duris é um dos maiores astros do cinema francês atual. Com uma beleza que foge do óbvio, ele consegue habilmente se encaixar nos mais distintos personagens, indo do nerd esquisito ao galã irresistível sem muitas dificuldades. Pois é justamente este último tipo que ele incorpora nesta comédia romântica dirigida por Pascal Chaumeil, aqui em melhor momento do que em seus projetos posteriores (Um Plano Perfeito, 2012, e Uma Longa Queda, 2014). Duris aparece como um conquistador profissional que é contratado para seduzir – e depois abandonar – a herdeira de um milionário. A questão é que o empresário não quer sua filha (a cantora Vanessa Paradis, ex de Johnny Depp) envolvida com o atual noivo (Andrew Lincoln, o Rick Grimes da série The Walking Dead, 2010-), e recorre ao bonitão de ocasião apenas para confundi-la emocionalmente a ponto de abandonar seus planos iniciais. Só que no cenário idílico da Riviera, em meio a intensidade das emoções com as quais estarão lidando, a menos de uma semana para o casamento dela, o plano poderá não ser cumprido à altura das expectativas, mas extrapolado, numa nova conjunção da qual eles dificilmente se verão livres. – por Robledo Milani

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Românticos Anônimos (Les Émotifs Anonymes, 2011)
“Oi. Meu nome é Angélique Delange e sou emotiva”, diz Angélique durante sua única interação social recorrente, num grupo de ansiosos anônimos. Naturalmente amedrontada e tímida, ela comemora a conquista de um emprego numa fábrica de chocolates, onde pretende colocar em prática todos os seus talentos culinários na confecção de doces. No entanto, a vaga disponível no local é para um trabalho como representante comercial e, como se a situação não fosse suficientemente tensa, ela é convidada para jantar com seu novo chefe que possui tantas dificuldades em manter contato com outras pessoas quanto ela. Com tal premissa curiosa, esta é uma comédia romântica doce e muito divertida, repleta de ótimos personagens e situações. O cineasta Jean-Pierre Améris, já premiado em Cannes por Les Aveux de l’Innocent (1996), apresenta no filme a curiosa situação de um casal improvável, que descobre na timidez extrema uma semelhança que pode os unir. O elenco é liderado pelos ótimos Isabelle Carré, de O Refúgio (2009), e Benoît Poelvoorde, de  Coco Antes de Chanel (2009), que revelam uma química encantadora e deliciosa como o melhor dos chocolates. – por Conrado Heoli

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A Vida de Outra Mulher (La vie d’une autre, 2012)
Contando com o carisma enigmático de Juliette Binoche e a química da atriz com o excelente Mathieu Kassovitz, esta produção dirigida pela atriz Syvie Testud é um leve passatempo para o espectador. Na história, Marie (Binoche) é uma quarentona que um dia acorda acreditando que tem 25 anos de idade. Ela não se lembra de mais de uma década de vida e de todas as transformações pelas quais passou, incluindo fazer parte de um casamento prestes a ruir. Ao mesmo tempo em que repensa suas escolhas nesse futuro-presente tão desconhecido, Marie precisa correr contra o relógio e reconquistar o seu marido (Kassovitz) em um curto espaço de tempo. Brincando com uma narrativa tão típica do cinema norte-americano, de títulos como De Repente 30 (2004) a Quero Ser Grande (1988), o longa-metragem de Testud não é uma grandiosa obra que vá modificar o gênero romântico ou subvertê-lo, porém injeta suavidade através de performances tão sutis de seus protagonistas. Binoche está irresistível como sempre e com um timing cômico delicioso. – por Renato Cabral

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Paris-Manhattan (2012)
Em sua estreia na direção, a francesa Sophie Lellouche segue fielmente boa parte das diretrizes da cartilha das comédias românticas tradicionais. Felizmente, a diretora se permite injetar algum frescor em seu trabalho, sendo capaz de diferenciá-lo da média dos inúmeros títulos do gênero que chegam anualmente aos cinemas ao redor do mundo. Esse fator de diferenciação vem da ideia da protagonista, a farmacêutica Alice (Alice Taglioni), mulher solteira que ainda busca um grande amor, ser uma ávida fã de Woody Allen. A começar pelo título, as referências à obra do diretor nova-iorquino são inúmeras, não se atendo apenas a citações literais de frases e cenas de seus clássicos, como também tentando emular parte dos elementos que compõem o singular universo “woody alleano”, incluindo seu humor típico. Essa proposta de Lellouche resulta em um produto divertido, rápido e simpático, com alguns bons diálogos e sacadas inventivas, ainda que ingênuas – como o fato de Alice “receitar” filmes para os clientes. Uma comédia feita por fãs e para fãs de Allen, ele que brinda seus admiradores com uma espirituosa participação especial, mas que até aqueles não plenamente familiarizados com seu trabalho podem desfrutar. Talvez sem o mesmo prazer, porém sem perder a piada. – por Leonardo Ribeiro

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A Datilógrafa (Populaire, 2012)
Nesta simpática e envolvente comédia romântica escrita e dirigida por Régis Roinsard, em sua estreia como realizador no formato, somos convidados a conhecer um outro lado do talento do sempre galante Romain Duris. Na trama ambientada no final dos anos 1950, ele vive um rígido e controlador empresário que vê sua vida virada de cabeça para baixo ao contratar uma nova secretária. A questão é que a garota, interpretada com graça por Déborah François, longe da densidade demostrada no drama A Criança (2005), pode não ser a mais atenta ou responsável das atendentes, mas seu talento em frente a uma máquina de datilografar irá fazer toda a diferença. A ponto de vencer concursos regionais e nacionais de rapidez e se qualificar para uma disputa internacional, em que, ao aceitar representar a França, revela um potencial que seu próprio patrão nunca havia vislumbrado. Duris vai aos poucos cedendo – também para isso contando com a ajuda da melhor amiga vivida por Bérénice Bejo – e se transformando, até que a destreza dela e a competência dele irão se encaixar perfeitamente, rendendo um dos casais mais sui generis – e adoráveis – do cinema francês recente. – por Robledo Milani

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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