O domingo foi um dia bastante diferenciado aqui em Gramado. Com várias opções de festas na noite anterior – Winter, Casa Branca, Harley Motor Show – tudo começou meio tarde. Mas isso não quer dizer que foi menos interessante, afinal foi quando os artistas chegaram em peso
. Passaram pelo tapete vermelho atores como Luciano Szafir, Larissa Maciel, Sérgio Marone, Léo Rosa, Márcio Kieling, Cláudia Alencar, Carla Marins, Marcelo Serrado, Caio Junqueira, André Ramiro, Flávio Bauraqui e Wagner Santisteban, entre tantos outros. Prato cheio para paparazzis e caçadores de autógrafos. O engraçado é que nenhum destes citados está participando de algum dos filmes selecionados. Ou seja, vieram apenas pela badalação, e não pelo cinema.
O terceiro dia de festival foi também responsável por algumas emocionantes homenagens: para o cineasta Gustavo Dahl e para o comunicador Clóvis Duarte, ambos falecidos recentemente. Placas em suas memórias foram colocadas no hall de entrada do Palácio dos Festivais, registrando a importância destes profissionais para o cinema nacional e para o próprio Festival de Cinema de Gramado.
Como durante o dia poucos momentos motivaram os festivaleiros, foi durante a noite em que se concentraram as maioresatrações. O longa latino, o mexicano A Tiro de Piedra, de Sebastian Hiriart (acima), foi exibido com um misto de expectativa e frustração. Isso porque a cópia em película não chegou a tempo, obrigando a organização do evento a exibir uma cópia de serviço em dvd, com qualidade de imagem bastante inferior. Nada que tenha prejudicado a percepção desse interessante trabalho, que tem como maior destaque a atuação intensa de Gabino Rodriguez, o protagonista, que curiosamente ganhou o kikito de Melhor Ator aqui em Gramado no ano passado, por Perpetuum Mobile (2010). Esse novo trabalho prende a atenção do espectador que conseguir abstrair a estranheza do que motiva um criador de cabras do interior do México a abandonar família e trabalho para entrar ilegalmente nos Estados Unidos e partir, obstinadamente, até Oregon, guiado apenas por uma imagem que encontra em um chaveiro perdido no meio do mato. A conclusão da trama pode ser um pouco frustrante, mas o caminho até lá é não só interessante como também envolvente e rico de leituras e possíveis análises. Um longa diferenciado que possui inegáveis méritos.
O mesmo não pode ser dito de Uma Longa Viagem, o terceiro longa brasileiro da competição. Esse misto de documentário e ficção – a participação do ator Caio Blat interpretando algumas das cartas relatadas alivia a tensão da mesma forma de distrai do foco narrativo – é uma obra bastante pessoal da diretora Lúcia Murat (acima), a mesma do irregular Brava Gente Brasileira e do ótimo Quase Dois Irmãos, entre outros. Afinal a viagem do título trata do percurso trilhado por um dos irmãos da cineasta, Heitor, que passou a vida percorrendo sem eira nem beira o mundo, dos Estados Unidos à Índia, da Inglaterra ao Afeganistão, da Austrália à Grécia. Mas o que importa não é o turismo, e sim os motivos que o levaram tão longe e também o impediam de retornar. Ao mesmo tempo Murat mostra o que ia acontecendo nestes períodos de tempo com ela e com a família, como prisões, a repressão da ditadura, as decepções e as conquistas. E, principalmente, como tudo isso era assimilado pelo caçula tão distante e, ao mesmo tempo, tão presente. Heitor Murat dá seu depoimento, e ele sim é um personagem interessantíssimo. Tão curioso que chega a ser melhor do que o próprio filme. Nada que tenha impedido a recepção calorosa do público, que recebeu o filme ao término da projeção com a maior salva de palmas aqui em Gramado até o momento. Será que já temos o favorito – ao menos do Júri Popular?
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