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Entre 29 de outubro e 29 de novembro, a 20ª edição do Festival de Cinema Italiano no Brasil celebrou a força e a diversidade da produção contemporânea da Itália, reunindo sessões especiais, atividades paralelas e convidados de honra. Entre eles esteve o diretor Claudio Giovannesi, 47 anos, nascido em Roma, um dos nomes mais consistentes de sua geração. 

Reconhecido por títulos como Ali Tem Olhos Azuis (2012), exibido no Festival de Tribeca; Fiore (2016), selecionado para Cannes; e Piranhas (2019), que lhe rendeu o Urso de Prata de Melhor Roteiro no Festival de Berlim, Giovannesi já soma seis indicações ao David di Donatello, o principal prêmio do cinema italiano. Uma trajetória marcada por personagens à deriva, famílias fraturadas e juventudes expostas a desigualdades históricas.

No Festival de Cinema Italiano no Brasil 2025, o diretor apresentou Hey Joe, drama estrelado por James Franco. O filme acompanha Dean Barry, veterano estadunidense da Segunda Guerra que retorna à Nápoles dos anos 1970 para conhecer o filho que nunca viu. Lá, descobre um jovem criado no submundo do crime e precisa enfrentar, ao lado dele, as consequências de uma relação interrompida por décadas – e de uma cidade que carrega cicatrizes profundas de pobreza, contrabando e pós-guerra.

Em terras brasileiras, Giovannesi conversou com o Papo de Cinema sobre a construção do longa, sua parceria com Franco, o peso histórico que atravessa a narrativa e a dimensão emocional desse reencontro tardio entre pai e filho. Siga o fio e confira!

Claudio Giovannesi
Claudio Giovannesi

ENTREVISTA :: CLAUDIO GIOVANNESI

Hey Joe resgata o astro James Franco de um afastamento que ele havia se autoimposto nos últimos anos. Como chegaram ao nome dele e como foi o trabalho com ele no set?

James Franco é um ator que amava e seguia há muito tempo. Não somente pela sua carreira em Hollywood, mas pela sua grande participação no cinema independente americano e os seus trabalhos também, como diretor, com o cinema independente… eram muito interessantes. Ele não era mais o rapaz de 20 anos que interpretava James Dean. Eu vi uma foto dele e dava para ver que tinha se tornado um homem, estava com um olhar diferente, então ele era perfeito para o personagem, para um homem que tenta começar uma nova vida, uma nova possibilidade.

E, por acaso, ele tinha visto “La Paranza Dei Bambini” que nos Estados Unidos saiu com o nome de “Piranhas”, porque Sean Baker, diretor de Anora, havia feito uma linda crítica, um lindo artigo no site Letterboxd. Então, quando mostrei o roteiro, ele logo aceitou. E o trabalho no set foi maravilhoso, porque além de ser um ator ele também é diretor”.

A Itália do pós-guerra passou por um grande período de reconstrução, e Hey Joe de certa forma mostra os sacrifícios que muitas das mulheres locais, sem os maridos e filhos que perderam no conflito, se viram submetidas para seguirem vivas. Qual a importância do contexto histórico dentro dessa trama?

O filme é uma obra sobre as consequências da guerra e não mostra os campos de batalha. Mostra Nápoles em 1944 e 1971. Em 1944, Nápoles era um bordel a céu aberto porque, numa condição de fome extrema, a única possibilidade que o povo tinha era com o comércio das mulheres. E esse é um aspecto trágico, é uma consequência da guerra. Quem faz a guerra são os homens, mas quem sofre a guerra são as mulheres, as crianças, os filhos.

Então a gente mostra, em 1971, esse filho da guerra que encontra o pai que foi soldado e, portanto, o filme conta esse contexto histórico, onde a violência da guerra não termina no campo de batalha, mas deixa uma herança nas décadas que seguem”.

Hey Joe, de Claudio Giovannesi
Hey Joe, de Claudio Giovannesi

Você já havia trabalhado antes com Francesco Di Napoli. É citada em diálogos a semelhança dele com o pai interpretado por James Franco. O que ele achou dessa comparação e como se deu a dinâmica entre os dois no set? E também gostaria que falasse um pouco sobre a decisão do personagem dele (sobre permanecer na Itália e não partir com o pai, sem revelar spoilers), que tanto demonstra lealdade ao pai adotivo e ao país no qual nasceu, como um sentimento que talvez nem tivesse percebido pelo seu verdadeiro pai.

Francesco Di Napoli é o protagonista, o filho de James Franco. E é um papel que ele obteve sem fazer nenhum teste. Eu tinha encontrado ele no meu filme anterior, “La Paranza Dei Bambini”, que no exterior saiu com o nome de “Piranhas”. E eu tinha escolhido ele entre três mil testes, entre três mil outras pessoas. E, nesse caso, para esse papel, logo quis ele até para uma semelhança que existe entre pai e filho.

Foi um presente incrível, uma coincidência. O filme conta algo que aconteceu, essa lenda de que aconteceu de verdade, de um soldado dos EUA, depois de ter combatido no Vietnã, foi para Nápoles para encontrar um filho que ele nunca tinha conhecido. Mas o filho, que cresceu entre contrabandistas, não queria saber nada desse pai vindos das Américas. Essa é a ideia original, que é uma história que nos contaram e aconteceu realmente num centro histórico de Nápoles.

A decisão e o final, sem dar spoiler, refletem o tema. Não é possível recuperar o tempo perdido. Não é possível mudar um erro feito no passado. É somente possível construir um futuro novo e ter novas possibilidades”.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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