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Sinopse

Entre os anos 1960/70 a cidade de São Francisco é aterrorizada pela existência de um assassino em série. Investigadores e jornalistas ficam obcecados pelo caso do homicida que deixa mensagens cifradas.

Crítica

Depois do grande sucesso de público e crítica de Seven - Os Sete Crimes Capitais (1995), o diretor David Fincher tinha tomado uma decisão: não chegaria nem perto de roteiros que envolvessem serial killers, investigações de assassinato ou coisas afins. Decisão acertada, claro. Temendo ficar limitado a apenas um gênero, o cineasta acabou trilhando por caminhos mais perigosos com o excelente e intrigante Clube da Luta (1999) e o acima da média O Quarto do Pânico (2002). Doze anos depois de Seven e com a consciência tranquila de que não se repetiria, Fincher resolveu voltar ao gênero que o consagrou assinando Zodíaco, um suspense bem amarrado baseado em eventos reais. Mas como poderíamos esperar de um cineasta que não gosta de rotinas, o filme tem pouco a ver com o longa-metragem estrelado em 1995 por Brad Pitt e Morgan Freeman.

Aliás, a única semelhança entre as duas produções é o fato de ambas terem um serial killer como mira dos personagens principais. Fora isso, Zodíaco não poderia estar mais distante de Seven. Enquanto o longa-metragem de 1995 tinha uma iluminação escura e um clima opressor, este novo trabalho de Fincher não se preocupa com uma atmosfera misteriosa ou com cenas que privilegiem a violência do assassino. O foco de Zodíaco é a investigação minuciosa realizada pelos inspetores David Toschi (Mark Ruffalo), William Armstrong (Anthony Edwards) e, principalmente, pelo jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr.) e o cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal). A ação é tão cheia de minúcias que pode incomodar boa parte do público, que não está acostumada a assistir a um thriller com ritmo lento. Mas para contar a história do serial killer Zodíaco, que fez a população norte-americana ficar temerosa no final dos anos 1960, era necessário um andamento mais comedido. O filme mostra os primeiros assassinatos cometidos pelo criminoso, que desafiava a polícia e a imprensa com cartas cifradas, que deveriam ser publicadas nos jornais. Do contrário, Zodíaco ameaçava matar mais pessoas, em um frenesi sangrento. Foram gastos anos e anos para tentar chegar a um suspeito que se encaixasse nas provas coletadas nas cenas dos crimes. E o tagline do filme traduz isso de forma corretíssima: "Existe mais de uma forma de se perder a vida para um assassino". Toschi, Armstrong, Avery e, principalmente, Graysmith passam anos no encalço do serial killer, cedendo boa parte de suas vidas para a causa.

Para dar forma a estes quatro importantes personagens, Fincher não poupou esforços em escolher bons nomes. Robert Downey Jr. é, sem dúvida, o que de melhor Zodíaco traz em matéria de atuação. Interpretando o autoconfiante jornalista Paul Avery, ele dá um tempero especial ao longa-metragem que perderia boa parte do charme e bom humor sem sua performance. Seu personagem acaba trilhando caminhos que o próprio ator já experimentou, fato que o deixa ainda mais perfeito para o papel. Sua dobradinha com Jake Gyllenhaal, que desponta como um dos melhores atores de sua geração, faz a primeira parte do longa-metragem andar com fluência. Mark Ruffalo deixa seu passado apático para trás e acha o tom certo para o seu personagem, enquanto Anthony Edwards surpreende com uma boa performance, depois de ter ficado um tanto sumido após Plantão Médico. Se o quarteto principal está bem servido, o mesmo pode se dizer do inspirado elenco de apoio, que conta com nomes como Brian Cox, Chloe Sevigny, Dermot Mulroney, Elias Koteas, John Terry e Philip Baker Hall. Mas quem acaba chamando a atenção é John Carroll Lynch, interpretando um dos suspeitos investigados pela polícia, apresentando uma atuação firme, dando uma injeção de ânimo na segunda parte do longa-metragem.

É nesta segunda parte, aliás, que a narrativa começa a ficar mais interessante. Graysmith, obcecado pelo caso nunca resolvido pelos policiais, acaba tomando para si a investigação e parte atrás de pistas para provar suas teorias. Isso depois de duas horas de narrativa, claro. David Fincher poderia fazer um filme mais curto? Possivelmente. Mas quem espera encontrar uma história que privilegie investigações, provas e teorias não perceberá os 158 minutos de projeção. Já quem espera um segundo Seven pode sair bastante decepcionado.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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