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Sinopse

É descoberta uma cura para os mutantes, que agora podem optar por manter seus poderes ou se tornarem seres humanos normais. A descoberta põe em campos opostos Magneto, que acredita que esta cura se tornará uma arma contra os mutantes, e os X-Men, liderados pelo professor Charles Xavier.

Crítica

Em X-Men: O Confronto Final, depois de se passarem seis anos desde a estreia na tela grande, os heróis mutantes das histórias em quadrinhos da editora Marvel voltaram às telas para uma visão definitiva de suas existências no celulóide. E pouca coisa aqui poderia ser mais apropriada. Em 2000 eles foram apresentados ao mundo cinematográfico. Ali se desenharam os protagonistas e levantou-se a questão base de toda a trama: é possível uma convivência pacífica entre seres diferentes? Três anos depois, voltaram para mostrar com todas as suas forças o que estavam dispostos a fazer: seus poderes são aparentemente ilimitados, suas forças combinadas geram ação suficiente no melhor estilo de diversão escapista, ao mesmo tempo em que seus questionamentos possuem embasamento para atrair até o mais desconfiado dos espectadores. E dessa vez eles mostraram que não estavam para brincadeiras.

X-Men: O Confronto Final é a conclusão que muitos esperavam para esta que é apenas a primeira trilogia destes personagens na tela grande. Concluindo um círculo perfeito, os três filmes da série combinam entre si como poucos. Talvez este terceiro episódio não seja superior ao segundo (e não é, o que não chega a ser totalmente decepcionante), mas é, sim, ao primeiro (que já era excelente, aliás). Na verdade, o que temos aqui é uma combinação do que de melhor já havia sido apresentado antes: ação espetacular com argumentos críveis, discussões intrigantes e um visual acima de qualquer suspeita. O que não é pouco diante as tantas expectativas que circundavam este projeto.

As complicações começaram logo após a bem-sucedida incursão de X-Men 2 (2003) aos cinemas: os cachês dos atores principais ameaçavam chegar a valores astronômicos, o que talvez inviabilizasse a série. Muita discussão e vários acordos fechados depois, outra bomba: o diretor Bryan Singer, responsável pela visão mais do que acertada dos dois primeiros filmes, abandonou o terceiro longa em nome de uma outra causa: preferiu comandar a volta do Homem de Aço às telas no malfadado Superman: O Retorno (2006). Após algumas indecisões, fechou-se com Brett Ratner, o cara que ultimamente anda se virando com comédias passageiras como Roubo nas Alturas (2011). Medo no ar: conseguiria ele manter o mesmo alto padrão já estabelecido? Resposta: o cara deu conta da tarefa, apesar da torcida contrária!

X-Men 3 dá seqüência aos trágicos acontecimentos apresentados na aventura anterior, elevando o nível da discussão. Para quem desconhece, os X-Men são mutantes, pessoas que tiveram alterações biológicas congênitas, ou seja, nasceram diferentes, com poderes especiais. Abalado com a morte de Jean Grey (Famke Janssen, perfeita), uma psíquica de poderes incalculáveis, Scott Summers (James Marsden, em participação respeitosa) volta ao lago Alkali, e, inadvertidamente, acaba ressuscitando a amada. Mas ela não é mais como antes, e está dividida entre duas personalidades: a anterior, contida, e uma nova, conhecida como Fênix, capaz de absolutamente tudo – para o bem, e para o mal!

Enquanto precisam lidar com a mais poderosa mutante já nascida, uma novidade surge pelas mãos de uma indústria farmacêutica, que conta com o apoio do governo: a possibilidade de “cura” para o gene mutante. Enquanto uns se entusiasmam com a idéia – como Vampira (Anna Paquin, respondendo pela parte mais fraca da trama), uma garota que tem o dom de “sugar” a energia vital de qualquer pessoa em que toque, o que a impossibilita tocar em qualquer outro ser vivo – outros irão combatê-la com força. Afinal, é possível “curar” algo que já nasceu conosco? Isto é, não estaria sendo alterada a própria estrutura pessoal de cada um? Só que os modos de enfrentar esta inovação irão provocar uma divisão entre os mutantes: se os alunos da escola do professor Charles Xavier (Patrick Stewart, responsável por um dos momentos mais emocionantes), como Wolverine (Hugh Jackman, já no domínio completo do personagem), Tempestade (Halle Berry, sem conseguir transmitir ao espectador a liderança que o personagem exige), Kitty Pryde (Ellen Page, uma das boas novidades do elenco) e o Homem de Gelo (Shawn Ashmore, competente) preferem debater a questão diplomaticamente, a grande maioria passa a acreditar que isto será apenas o início de um massacre. Assim, eles se unem numa irmandade disposta a eliminar a qualquer custo a origem deste novo tormento.

O que mais impressiona em X-Men 3 não é a ação quase ininterrupta e de tirar o fôlego, as idéias propostas e debatidas ou a qualidade dos profissionais envolvidos, desde os atores em frente às câmeras até os técnicos responsáveis dignos de uma produção do primeiro time (como o roteirista Simon Kinberg, de Sr. & Sra. Smith, 2005, e o supervisor de efeitos especiais John Bruno, vencedor do Oscar por O Segredo do Abismo, 1989): é, sim, o fato de todos estes méritos estarem reunidos num só longa, e, ainda por cima, num blockbuster destinado a faturar milhões nas bilheterias mundiais. Com um orçamento de US$ 150 milhões, um dos mais altos já destinados a um projeto baseado em personagens de histórias em quadrinhos, o filme justifica em cada frame seu investimento e realização, tornando-o desde então uma obra referencial dentro do gênero.

Claro que nem tudo em X-Men 3 é perfeito. Certos assuntos, como a própria questão da “cura” e o impacto que ela tem em alguns – o caso de Vampira é exemplar – talvez merecessem ser mais aprofundados, assim como os destinos dados a vários personagens-chave possam ser qualificados como radicais demais na visão de muitos – sim, estou falando de mortes aparentemente irreversíveis! A relativa pouca duração do filme – são apenas 104 minutos! – provoca algumas conclusões apressadas, o que inevitavelmente deixará um sabor amargo em alguns dos fãs mais exagerados. Mesmo assim, nada que prejudique uma avaliação geral. X-Men: O Confronto Final é muito, muito bom, e se insere com louvor em uma tradição que tem tudo para gerar outros frutos igualmente notáveis. Muitas outras histórias podem ainda ser contadas, e as deixas para isso aqui estão presentes em grande quantidade. Ah, e uma dica: não saia até o final dos créditos, pois sempre resta uma esperança de que algo novo apareça. E, como sempre, os X-Men não nos decepcionam.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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