Crítica

Se você é leitor da Bíblia, dos mais devotados ou não, e não concorda que um filme possa relacionar zumbis com religião, pode parar por aqui. Agora, se é adepto do lema que diz "cinema é a maior diversão", prepare-se para encarar uma produção australiana no melhor estilo sangue e risos, e que ainda pega uma carona (de leve) com os filmes de Mad Max. Exibido no Fantaspoa 2015, Wyrmwood marca a estreia do curtametragista Kiah Roache-Turner na direção de um longa e o tiro foi certeiro.

Na história, os moradores de uma cidade aparecem transformados em zumbis, enquanto outras pessoas, misteriosamente, não se contaminam. É quando uma jovem fotógrafa escapa de um ataque, mas acaba presa por homens armados e com máscara de gás, que a levam para um local onde estranhas experiências são realizadas por um sádico cientista. Enquanto isso, seu irmão, que também não foi infectado, começa uma jornada sangrenta e cheia de surpresas para tentar salvá-la. Para isso, vai contar com a ajuda de outros poucos homens ainda livres da contaminação.

Escrito pelo cineasta e seu irmão Tristan Roache-Turner, o roteiro pega uma passagem de Revelações do livro sagrado, traça uma espécie de paralelo com o juízo final, misturando o universo zumbi com o do guerreiro das estradas conterrâneo, e aborda de uma maneira inusitada (e divertida) a questão dos combustíveis e a geração de energia. Só vendo para crer e rir. Donos da Guerilla Films, a dupla ainda atuou em várias frentes para fazer o filme acontecer, como produção, efeitos especiais, som, edição, câmeras e até figurino, que assim como as armas e veículos especiais também flertam com o estilo mad maxiniano.

Diante dessa obra com sotaque australiano, do elenco de desconhecidos o destaque vai para Bianca Bradey, que faz a jovem sequestrada, boa de porrada, tiros e com poderes especiais. A trama tem lá suas mancadinhas, mas nada que faça perder poder de impacto junto aos que admiram uma carnificina básica, com pancadas e tirambaços na cabeça, esguichos de sangue, gritos e palavrões. Nesse quesito, aliás, o ator aborígene Leon Burchill diverte com seus diálogos altamente contaminados pela palavra "fuck". Wyrmwood pode não ser daqueles títulos que ficarão para sempre na sua memória, mas também não é sempre que se ouve KC and The Sunshine Band ("Get Down Tonight", de 1976) como prelúdio de um momento sanguinolento. Entendeu, "mate"?

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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