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Sinopse

A Terra encontra-se em plena Guerra Fria e próxima a um holocausto nuclear. Nesse cenário, super-heróis são declarados fora-da-lei e os únicos ainda em atividade são diretamente controlados pelo governo norte-americano. Tudo muda quando heróis aposentados e outros ainda em ação se unem contra um inimigo invisível.

Crítica

'Melhor gibi do século!’ ‘Única história em quadrinhos citada entre as 20 maiores obras literárias da história pela revista Time!’ ‘O “Cidadão Kane” dos super-heróis!’ Não são poucos os superlativos usados quando se fala a respeito de Watchmen. Talvez seja justamente por isso também a imensa decepção que o filme proporciona. Absurdamente extenso (são quase 3 horas de projeção), com pouquíssimas cenas de ação, heróis nada atraentes, com quase nenhuma moral e zero ética, tudo o que se consegue observar é um gigantesco esforço de produção que termina por resultar em algo constrangedor, enfadonho e por demais bizarro para ser atraente sob qualquer ponto de vista.

Na verdade, a melhor conclusão que pode ser obtida através deste filme é que Alan Moore é quem tem razão. Afinal, TODOS os longas baseados em suas obras resultaram em trabalhos decepcionantes. E ele é o primeiro a ser contra estas versões cinematográficas, afirmando que “suas criações funcionam no mundo dos quadrinhos, e não na tela grande”. Sua resistência é tão veemente que na maioria das vezes chega a se recusar a assinar a autoria destas tramas, como aconteceu em V de Vingança (2005) e Constantine (2005). Só que chega a ser pior ainda quando seu nome está notoriamente envolvido, como foi em Do Inferno (2001), em A Liga Extraordinária (2003) – o fracasso aqui foi tão retumbante que provocou a aposentadoria de Sean Connery – e este novo Watchmen.

Desde meados dos anos 90 tentam adaptar cinematograficamente esta história de heróis de caráter dúbio envolvidos numa Guerra Fria prolongada. A lista dos astros e diretores que, em algum momento, já estiveram envolvidos neste projeto é longa: Tom Cruise, Jude Law, Gerard Butler, Thomas Jane, John Cusack, Sigourney Weaver, Hilary Swank, Jessica Biel, Terry Gilliam, Darren Aronofsky, Paul Greengrass. Foram tantas idas e vindas, altos e baixos que parecia que isso nunca iria ser concretizado – o que infelizmente acabou acontecendo! E o que temos é um deslumbrado Zack Snyder, capitaneando um elenco B (Jeffrey Dean Morgan? Malin Akerman? Carla Gugino? Patrick Wilson? Matthew Goode?) num roteiro tão furado quando ambicioso. Na tentativa de incluir o máximo possível e não deixar nada de fora, quem acabou excluído foi o próprio espectador.

A não ser, claro, que esse seja fanático pela graphic novel original. Porque o que dizem é que a fidelidade com o material é extrema. Mas em quadrinhos foram várias edições para o leitor ir se acostumando aos poucos, paulatinamente, com o ambiente e a ideia de anti-heróis, pessoas que aleatoriamente decidem defender a lei e a justiça – mas sem ter quem controle os próprios excessos deles. Talvez uma série de televisão, ou se tivesse sido concebido como uma trilogia, funcionasse melhor. Agora, do jeito que se apresenta, é muita informação de uma só vez, muitos paradigmas para ser rompidos e sem um embasamento prévio suficiente que justifique o interesse da grande massa.

Watchmen se passa numa realidade em que os super-heróis existem. Com as intervenções deles, muitas coisas aconteceram diferente. A Guerra do Vietnã foi ganha pelos Estados Unidos, Richard Nixon está no seu terceiro mandato consecutivo e a disputa pelo controle mundial entre a América e a Rússia está cada vez mais acirrada. O perigo de uma Terceira Guerra Mundial, inevitavelmente atômica, não só é real como iminente. Estes combatentes com habilidades especiais começaram a aparecer na década de 40, mas atualmente, em plenos anos 80, são poucos os aceitos pela sociedade e em situação legal. Quando o Comediante, um dos mais emblemáticos destes mascarados, é assassinado, suspeita-se que haja um plano para eliminar todos os que ainda se encontram na ativa. E será neste momento que personagens como o Coruja, Ozymandias, Rorschach, Dr. Manhattan e Espectral irão se unir, na tentativa de descobrir não só quem os está ameaçando, mas também quais serão os papéis deles no desenrolar de uma nova ordem global.

Talvez o maior problema de Watchmen seja mesmo o roteiro, confuso e previsível. Escrito por David Hayter (X-Men) e do novato Alex Tse, se preocupa exageradamente em pormenores, demorando demais para chegar ao clímax da trama. São tantos flashbacks (não agüentava mais o clipe “origem” de cada herói), voltas no tempo, intenções duvidosas e tentativas de criar um cenário ao mesmo tempo decadente e interessante, que nos distraímos no caminho a ponto de esquecer o porquê de tudo aquilo. E quando a atenção se vai, nada mais resta. A não ser, é claro, como já afirmei antes, que o espectador em questão seja uma adorador inveterado da fonte e nada questionador. Estes, na verdade, nem deveriam ler o que aqui foi escrito, afinal já entraram na sessão amando tudo o que estava para ser exibido. Agora, para os demais - a grande maioria, aliás - a conclusão é óbvia: Watchmen é muito esforço para pouco retorno. O melhor, mesmo, é ir atrás dos gibis e seguir as advertências do velho Moore. Afinal, quem pode estar mais certo este mundo do que o seu próprio Deus?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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