Crítica


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Sinopse

Uma professora é obrigada a se deparar diariamente com comerciantes de drogas e outros tipos de violência no entorno da escola onde trabalha. Ela será levada a proteger um menino de oito anos que teve os pais assassinados.

Crítica

Que bela surpresa entrar numa sala de cinema, num dia qualquer no meio da semana, e encontrá-la completamente cheia! E o melhor de tudo: o filme em cartaz era brasileiro! Pois isso aconteceu quando fui ver Verônica, uma interessante produção nacional que consegue combinar relevância crítica com envolvimento com o público. É um belo produto de entretenimento, com o qual o espectador se emociona, se diverte e participa, ao mesmo tempo em que possui uma forte mensagem e discute temas muito atuais, como corrupção, violência e honestidade. Ou seja, em plena sintonia com o Brasil que conhecemos.

Terceiro longa-metragem do diretor Maurício Farias, ele mais uma vez conta com a esposa – e ótima atriz – Andréa Beltrão no elenco. Só que, desta vez, como protagonista, o que faz uma diferença enorme! Depois de papéis secundários nos irregulares O Coronel e o Lobisomem e A Grande Família: O Filme, a dupla formada pelo casal consegue colocar em discussão assuntos que provocam e incomodam, sem serem exageradamente didáticos ou convencionais. Os dois brincam com vários clichês do gênero 'aventura policial' – e, em alguns destes casos, até se deixam levar pelas soluções mais fáceis e previsíveis. Mas nada a ponto de prejudicar o bom andamento dos acontecimentos. E rodeada de um interessante elenco coadjuvante – que inclui Marco Ricca, Ailton Graça, Giulio Lopes, Flávio Migliaccio e Camilla AmadoAndréa consegue uma ótima atuação, intensa, segura e muito compenetrada, bem diferente da composição hilária vista no recente Romance. Uma versatilidade que poucas atrizes conseguem com tanta desenvoltura.

Verônica é o nome da personagem interpretada por Beltrão. Ela dá vida a uma professora de ensino público cansada da luta diária – do desrespeito dos alunos, da violência urbana, do descaso público. Ao mesmo tempo em que sofre com a mãe, internada num hospital sem um plano de saúde privado, procura esquecer o ex-marido policial, que mais falava do que agia. Tudo muda, no entanto, no dia em que um dos alunos fica sozinho no colégio depois da aula – ninguém aparece para buscá-lo. Ao levar o menino até a casa dele, numa favela carioca, descobre que os pais do garoto foram assassinados e que o próximo da lista é a criança. Tudo porque ele está portando um pen drive, entregue pelo pai, com imagens que provam um forte esquema de corrupção policial com os bandidos do morro. E a única pessoa que poderá salvá-lo é essa mulher, que agora encontra um novo motivo para viver.

Com uma direção de arte bastante convincente, uma fotografia crua e verossímil de José Guerra (que faleceu logo após as filmagens) e uma competente trilha sonora de Branco Mello, Verônica se sobrepõe à qualquer crítica em relação aos seus méritos técnicos. A análise, então, recai sobre o roteiro, escrito pelo diretor em parceria com a atriz e com Bernardo Guilherme (roteirista também da série A Grande Família). Apontando para um registro bem mais ligado ao cotidiano de uma metrópole brasileira, consegue fazer todas as denúncias já habituais no cinema urbano nacional, mas sem perder muito tempo nisso – há uma história a ser contada, e ela pede por urgência. Assim, sem excessos, o ritmo é mantido com bastante habilidade. E, desta forma, equilibrando-se com muito talento entre o raso e o intelectual, incomoda na medida certa para não ser descartável, com a vantagem de ainda incitar à reflexão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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