Crítica


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Sinopse

O professor Matei chega aos 70 anos sem concluir o trabalho de sua vida e amargurado por conta da morte de seu amor. Quando estava pensando em morrer, um raio o atinge e reverte o seu processo de envelhecimento.

Crítica

Você é o homem mais importante do mundo, diz o médico para Dominic, protagonista de Velha Juventude. A afirmação megalomaníaca faz parte da história confusa que Francis Ford Coppola leva às telas 10 anos depois do seu último filme, O Homem que Fazia Chover (1997). A expectativa criada pelo hiato de uma década não fez jus à espera dos  fãs, que se depararam com um filme problemático e uma direção fora de forma.

Estamos na Segunda Guerra Mundial, quando o escritor e professor vivido por Tim Roth vislumbra um futuro amargo. Enquanto a Romênia, seu país natal, está cada vez mais próxima dos nazistas, Dominic se vê sozinho e sem conseguir terminar a obra cuja vida dedicou. A saída está no suicídio. Antes disso, porém, um raio o atinge. Na cama do hospital, o que era para ser morte natural tornou-se porta para uma nova vida. Tal qual Benjamin Button (protagonista de O Curioso Caso de Benjamin Button, 2008), Dominic rejuvenesce e ganha, aos 70 anos, um corpo de 40. Ao acontecimento assombroso, os médicos respondem com a frase que abre o texto. A notícia do caso se espalha pela Europa e chega aos ouvidos de Hitler. Fascinado pela ideia da raça ariana, o líder do Terceiro Reich faz de Dominic alvo da inteligência alemã.

Para além do enredo curioso, a adaptação do romance do escritor romeno Mircea Eliade chama atenção para a intimidade com que Coppola constrói o protagonista. Colocado em meio a uma trama que mescla suspense, ficção científica e algo de um cinema metafísico-bergmaniano, é impossível deixar passar o fato de Dominic e Coppola compartilharem a mesma idade. As sete décadas vividas não deixam de ser uma informação relevante - mesmo que não necessária - para pensar o cinema de Coppola, ainda mais quando este trata de nostalgia e de cobranças artísticas. À medida que a carreira avança, o diretor parece estabelecer uma transição entre uma primeira fase voltada para enredos de ação, com O Poderoso Chefão (1972), Apocalipse Now (1979) e O Selvagem de Motocicleta (1983), e uma segunda fase mais reflexiva, com Velha Juventude, Tetro (2009) e Virgínia (2011).

Toda guinada traz desconfortos, e a trama de Velha Juventude é um evidente desafio ao diretor. Ao não conseguir simplificar de maneira eficiente a estrutura literária originária, o roteiro de Coppola exige em demasia da montagem de Walter Munch. Colaborador em outros trabalhos do diretor, Munch tenta dar ritmo a uma narrativa de idas e vindas temporais, marcada por um andamento instável e assimétrico. A missão inglória da montagem junta-se à fotografia emocionalmente pesada do romeno Mihai Malaimare Jr., que não consegue aqui o bom resultado de Tetro, por exemplo. O resultado é um filme peculiar, fortemente centrado nas convicções cinematográficas de Coppola - como o contraste denso de luz e sombra, a tendência pela dramaticidade -, mas ao lado do que poderia ser considerado um filme inspirado. Bem ao lado.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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Grade crítica

CríticoNota
Willian Silveira
4
Robledo Milani
4
MÉDIA
4

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