Vampiro 40°
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Sinopse
Depois de uma temporada na Transilvânia, o vampiro Vlak volta ao Rio de Janeiro e se torna o rei do submundo carioca. Mesmo com tanto poder, está insatisfeito e inquieto, à procura de novos caminhos para fugir do tédio. Monitorado 24 horas por dia pela Limbo Corporation, comandada por Limboman (chefão das máfias vampirescas da América Latina), ele decide extrair seu próprio canino, equipado com chip e GPS, para acabar com a vigília que o liga à quadrilha. Com isso, acaba perdendo a memória. Sem se lembrar de quem é, Vlak conhece a mafiosa asiática Wang Su e tem que lutar com um antigo inimigo: Draco, que recuperou as forças e arrumou uma nova parceira, Dafne, a Foice Ruiva, psicopata decepadora procurada pelas autoridades cariocas.
Crítica
Se o Rio de Janeiro continua lindo, não é este o retrato que aparece em Vampiro 40°, longa-metragem de Marcelo Santiago derivado de sua série televisiva Vampiro Carioca, exibida originalmente no Canal Brasil. Ambas protagonizadas pelo cantor e escritor Fausto Fawcett, as produções seguem as desventuras da criatura-título numa cidade não tão maravilhosa assim, decadente e dominada por seres bizarros movidos por sexo, drogas e violência. Qualquer semelhança com fatos, lugares e pessoas reais não deve ser mera coincidência.
Antecipar a premissa de Vampiro 40° é algo tão complicado quanto desnecessário. Complicado porque há uma profusão interminável de personagens, cenários e tramas paralelas que se fundem e confundem a cada minuto da sessão. Desnecessário, uma vez que seu enredo parece apenas pretexto para um exercício de estilo e gênero bem particular ao qual o filme se aventura – o terror gore repleto de humor negro. Vale dizer que a trama se inicia quando Vlak (Fawcett) volta da Transilvânia e se torna o chefão do submundo vampírico carioca. Entediado, tenta fugir da rotina e de suas obrigações, mas acaba perdendo a memória ao mesmo tempo em que o caos se instaura ao seu redor.
Assim como em sua base televisiva, Vampiro 40° se vale da dinâmica e narrativa própria aos quadrinhos para alinhar sua estética, que se direciona à linguagem hiperestilizada de Sin City (2005). No entanto, o filme se torna refém de suas próprias referências e rapidamente se perde no uso excessivo de chroma key, que denuncia limitações técnicas e de orçamento ao invés de expandir as possibilidades visuais da produção. O formato poderia funcionar nos curtos episódios da série, porém se torna cansativo e repetitivo em maior duração, mesmo resumida em apenas 77 minutos. O elenco faz o que pode, mas Fausto Fawcett, Otto Jr. e Renata Davies não parecem sequer confortáveis em suas composições, e quando o ator não acredita no universo que deve retratar, isso se torna perceptível a cada frame.
O roteiro, escrito à seis mãos por Fawcett, Henrique Tavares e João Paulo Reys, não presta melhor serviço para Vampiro 40°; episódico e cheio de pontas soltas, falha ao tentar expandir um universo que já se inicia fadado ao fracasso. Personagens entram e saem da trama sem propósito aparente, apresentados em plano estático a partir de um nome com algum trocadilho supostamente irreverente e suas motivações pífias. As figuras femininas entram em cena apenas para servir aos homens ou protagonizar alguma sequência de sedução lésbica preguiçosamente filmada, numa abordagem sexista e tipicamente machista. Os diálogos, que extrapolam no referencial literário e musical de Fawcett, beiram o constrangimento entre expressões como “bussaranha de messalina cósmica” e “tratamento de pirochoque”.
Esta deveria ser a primeira incursão do casal Luiz Carlos e Lucy Barreto como produtores de um longa de terror, mas Vampiro 40° não funciona como tal, menos ainda como comédia, paródia ou sátira. Há uma mensagem evidente sobre o submundo do tráfico e exploração sexual cariocas, porém esta é equivocada e perde seu sentido rapidamente. Ou talvez o equívoco seja procurar qualquer sentido neste Vampiro 40°.
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