Crítica

Se o Rio de Janeiro continua lindo, não é este o retrato que aparece em Vampiro 40°, longa-metragem de Marcelo Santiago derivado de sua série televisiva Vampiro Carioca, exibida originalmente no Canal Brasil. Ambas protagonizadas pelo cantor e escritor Fausto Fawcett, as produções seguem as desventuras da criatura-título numa cidade não tão maravilhosa assim, decadente e dominada por seres bizarros movidos por sexo, drogas e violência. Qualquer semelhança com fatos, lugares e pessoas reais não deve ser mera coincidência.

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Antecipar a premissa de Vampiro 40° é algo tão complicado quanto desnecessário. Complicado porque há uma profusão interminável de personagens, cenários e tramas paralelas que se fundem e confundem a cada minuto da sessão. Desnecessário, uma vez que seu enredo parece apenas pretexto para um exercício de estilo e gênero bem particular ao qual o filme se aventura – o terror gore repleto de humor negro. Vale dizer que a trama se inicia quando Vlak (Fawcett) volta da Transilvânia e se torna o chefão do submundo vampírico carioca. Entediado, tenta fugir da rotina e de suas obrigações, mas acaba perdendo a memória ao mesmo tempo em que o caos se instaura ao seu redor.

Assim como em sua base televisiva, Vampiro 40° se vale da dinâmica e narrativa própria aos quadrinhos para alinhar sua estética, que se direciona à linguagem hiperestilizada de Sin City (2005). No entanto, o filme se torna refém de suas próprias referências e rapidamente se perde no uso excessivo de chroma key, que denuncia limitações técnicas e de orçamento ao invés de expandir as possibilidades visuais da produção. O formato poderia funcionar nos curtos episódios da série, porém se torna cansativo e repetitivo em maior duração, mesmo resumida em apenas 77 minutos. O elenco faz o que pode, mas Fausto Fawcett, Otto Jr. e Renata Davies não parecem sequer confortáveis em suas composições, e quando o ator não acredita no universo que deve retratar, isso se torna perceptível a cada frame.

O roteiro, escrito à seis mãos por Fawcett, Henrique Tavares e João Paulo Reys, não presta melhor serviço para Vampiro 40°; episódico e cheio de pontas soltas, falha ao tentar expandir um universo que já se inicia fadado ao fracasso. Personagens entram e saem da trama sem propósito aparente, apresentados em plano estático a partir de um nome com algum trocadilho supostamente irreverente e suas motivações pífias. As figuras femininas entram em cena apenas para servir aos homens ou protagonizar alguma sequência de sedução lésbica preguiçosamente filmada, numa abordagem sexista e tipicamente machista. Os diálogos, que extrapolam no referencial literário e musical de Fawcett, beiram o constrangimento entre expressões como “bussaranha de messalina cósmica” e “tratamento de pirochoque”.

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Esta deveria ser a primeira incursão do casal Luiz Carlos e Lucy Barreto como produtores de um longa de terror, mas Vampiro 40° não funciona como tal, menos ainda como comédia, paródia ou sátira. Há uma mensagem evidente sobre o submundo do tráfico e exploração sexual cariocas, porém esta é equivocada e perde seu sentido rapidamente. Ou talvez o equívoco seja procurar qualquer sentido neste Vampiro 40°.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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