Crítica

Estamos na Alemanha, em 1912. No início do século, as oportunidades de ascensão social demandavam mais sorte do que competência. No drama Uma Promessa, de Patrice Leconte, este foi o caso do jovem Friedrich Zeitz (Richard Madden). De origem humilde, morador de um sótão alugado em uma parte pobre da cidade, a vida do talentoso estudante de engenharia muda a partir do ingresso na companhia siderúrgica de Karl Hoffmeister (Alan Rickman).

A contratação poderia ter sido apenas um passo em direção à estabilidade – o máximo que alguém sem sobrenome poderia esperar na época. No entanto, o senhor Hoffmeister percebe o potencial do jovem e o chama para ser seu secretário. A aproximação profissional reflete na vida pessoal, e logo Zeitz conhece de Lotte (Rebecca Hall), esposa do patrão.

Patrice Leconte (Confidências Muito Íntimas, 2004) assina o roteiro junto a Jérôme Tonnerre. Adaptação da obra de Stefan Zweig, a temática pode ser reconhecida em outro trabalho do escritor, que esteve há pouco nas telas do país com O Grande Hotel Budapeste (2014). Independente das particularidades e das preferências estéticas dos diretores, tanto o filme de Wes Anderson quanto o de Leconte trazem um romance de época entrecortado pelas agruras da guerra.

Uma Promessa é um filme instável. No primeiro ato, quando deve apresentar os personagens, a relação com a então namorada e a entrada no emprego, Leconte impõe um vigor que raramente se repetirá nos momentos posteriores. Por um lado, isso é compreensível. O grosso do conteúdo, o desenvolvimento da tensão presente na mudança de Zeitz para a casa de Hoffmeister, por exemplo, merece ser talhado com cuidado. E, por boa parte do segundo ato, acabamos realmente envolvidos com a relação do jovem com Lotte. Quando finalmente a situação se estabiliza e Zeitz é mandado para o México, o filme sofre, então, uma baixa irreparável. As atuações pungentes de Madden e Hall somem de tela e são substituídas de maneira insuficiente pela troca de correspondências e – portanto – pela narração em off.

Além do filme se fragilizar em um momento crucial, notamos que a opção estética de Leconte pela fotografia contemporânea e leve de Eduardo Serra (Diamante de Sangue, 2006), como em Ensaio sobre a Cegueira (2008) ou em A Caça (2012), acaba acomodando-se mal ao andamento final e ao arrefecimento dos acontecimentos. A tensão psicológica não é suficiente para manter o drama.

Enquanto suportou o desdobramento das informações inicias, Uma Promessa se mostrou um filme interessante, tecnicamente competente e alicerçado em um elenco marcante e coeso. Na medida em que evoluiu, porém, tornou-se refém da própria expectativa criada, limitando-se – com o perdão do trocadilho infame – a ser apenas uma promessa.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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