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Sinopse

Já aposentado, Ben descobre que ficar parado não é algo que consiga fazer. É quando surge a oportunidade de ser estagiário no site de moda de Jules.

Crítica

Muito já se falou sobre o cinema de Nancy Meyers, como se o cenário onde se desenvolvem seus filmes fossem tão surreais quanto o de Avatar (2009). Afinal, nas tramas por ela imaginadas todo mundo é muito rico, bonito, feliz, realizado. Os problemas são quase pontuais, devido a um ou outro contratempo que, se para a maioria dos espectadores seria tirado de letra, para estes personagens acabam sendo determinantes o suficiente para gerarem uma trama com início, meio e fim. Como o visto em Um Senhor Estagiário, longa que se sustenta quase que exclusivamente pelo carisma de seu elenco, liderado por um Robert De Niro em excelente forma e uma Anne Hathaway dentro de seu habitat preferido, ou seja, como a boa moça, independente e trabalhadora, que se esforça para mostrar seu valor mesmo diante das condições mais adversas.

Assim como vez em Alguém tem que Ceder (2003) – com Jack Nicholson e Diane Keaton – e Simplesmente Complicado (2009) – com Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin – a diretora e roteirista confirma sua preferência por trabalhar com veteranos. De Niro assume o posto de protagonista, ainda que o enredo não o tenha como foco principal. Afinal, a história começa a se desenrolar a partir do momento em que ele, um viúvo cansado de fazer nada na bela casa onde mora e sem ânimo para visitar a todo instante a família do filho único – que reside do outro lado do país – decide que precisa dar um novo rumo à sua vida. Essa mudança começa quando encontra um anúncio de uma empresa de internet que está oferecendo vagas para estagiários sêniores, ou seja, para idosos que desejam regressar ao mercado de trabalho. Claro que não estamos falando de pessoas abandonadas, sem recursos ou deprimidas. O trabalho, aqui, é mais um lazer do que uma necessidade.

Assim como o é para Jules (Hathaway), uma mulher bem casada e mãe de uma bela garota que um dia tem uma ideia de ouro: criar um site para compras femininas. Sua iniciativa dá certo, e em pouco tempo está no comando de uma empresa em plena expansão. Seu sócio, Cameron (Andrew Rannells, do seriado Girls, 2012-2017), acredita que talvez seja o momento de buscarem um CEO para gerenciar melhor o negócio que criaram – ou seja, contratar alguém para mandar neles – uma decisão que provoca nela sérias dúvidas. Ao mesmo tempo, ela descobre que seu marido ideal (Anders Holm, de A Entrevista, 2014) – aquele que abandonou o próprio emprego para ficar em casa e cuidar da filha do casal para que a esposa pudesse tocar seu projeto pessoal – na verdade tem uma amante, o que pode significar o fim de seu casamento. Trabalho, família, tudo parece estar entrando em colapso. Mas alguém surgirá no horizonte para ser o ombro amigo e a voz da sabedoria que ela tanto precisa neste instante: seu estagiário.

De Niro, encarando com tranquilidade o papel de sábio conselheiro, tem pouco o que fazer em cena, mas sua presença emite tanta segurança e competência que chega a ser impossível não simpatizar com ele. Longe dos estereótipos de violência ou de comicidade exagerada aos quais mais de uma vez se entregou nos últimos anos, ele aqui parece construir um personagem de verdade, mostrando que mesmo aos 72 anos continua em pleno domínio de seu talento. Anne Hathaway, por outro lado, demonstra uma química interessante com seu parceiro de cena que vai além da óbvia posição pai-e-filha, para uma amizade crível e elaborada a partir da admiração e do respeito que passa a sentir pelo novo colega de escritório – a quem rejeita no início, apenas para se ver forçada a rever sua própria posição logo em seguida.

Um Senhor Estagiário não chega a ser histriônico como Do Que As Mulheres Gostam (2000), muito menos repleto de reviravoltas de última hora como O Amor não tira Férias (2006), outros sucessos da mesma diretora e roteirista. Por outro lado – e talvez por isso mesmo – acaba se revelando mais maduro, um filme sobre autodescobertas e entendimentos pessoais. Os elementos que surgem durante o desenvolvimento do enredo possuem suas importâncias, mas nunca a ponto de se sobrepujarem aos sentimentos e às crenças daqueles neles envolvidos. Um novo emprego que dê prazer, a fidelidade entre um casal, a decisão de começar uma nova vida, a necessidade de se ter um sonho vivo: motivos esses que fazem qualquer um levantar da cama diariamente e encarar com confiança e uma atitude positiva o que está por vir. Seja na vida real ou no mundo mágico de Nancy Meyers.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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