Crítica


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Sinopse

Arnaldo é um homem frustrado, preso a um casamento infeliz e a um emprego que odeia. Até que conhece Josie, uma jovem ruiva de comportamento excêntrico que trabalha com a tia em um cemitério de animais. Apaixonado, ele cria coragem e procura uma clínica clandestina que produz cópias de seres humanos. Acredita que um duplo poderá ser a solução para os seus problemas.

Crítica

Ao apresentar o longa Um Homem Só, que teve sua primeira exibição pública durante o 43° Festival de Gramado, a atriz – e estreante como produtora – Mariana Ximenes afirmou que tinha escolhido esse projeto porque estava atrás de papéis que lhe desafiassem artisticamente. É curioso perceber, portanto, ao assistir ao filme, o quanto o personagem que aqui interpreta é similar aos tantos outros que ela já desempenhou na televisão e, ainda mais gritante, é o fato dela não ser a protagonista, e sim Vladimir Brichta – que, afinal, dá título à obra. Ela nada mais é do que o par romântico dele, e ainda que tenha surpreendentemente recebido o kikito de Melhor Atriz no evento gaúcho, é preciso compreender que tal reconhecimento deve-se mais à falta de uma competição acirrada do que aos méritos que a intérprete revela neste trabalho.

Um Homem Só conta a história de Arnaldo (Brichta), um homem que, como se pode imaginar, está num momento muito... solitário, digamos. Infeliz no casamento, vive sob a pressão imposta pela esposa (Ingrid Guimarães, em registro equivocado e exagerado), uma artista frustrada que o trai com o vizinho e acredita que pode salvar o próprio casamento caso engravide. Ele percebe uma possível saída para sua depressão quando ouve de um colega de trabalho uma história absurda demais para ser real – ou incrível demais para ser mentira: uma clínica responsável por gerar clones dos requisitantes que, uma vez produzidos, assumiriam a parte enfadonha da vida daqueles que os solicitaram, abrindo espaço para estes abandonarem seus compromissos e irem atrás da verdadeira felicidade.

Arnaldo consegue encontrar o doutor capaz de operar tal milagre, mas desiste no meio do processo porque é iluminado por uma simples constatação: não precisa de ninguém para fazer as coisas darem certo, bastando criar coragem para tomar as atitudes certas. Decidido a se separar e assumir um romance com uma garota que cuida de um cemitério de animais (Ximenes) – a quem conheceu quando precisou enterrar o cão de estimação recém adquirido – se surpreende ao chegar em casa e se deparar consigo mesmo. Junta-se a essa mistura o melhor amigo que não faz a menor ideia de tudo que está acontecendo (Otávio Müller, o melhor em cena, pois está tão perdido quanto os espectadores) e dois capangas que passam a perseguir Arnaldo – ou seria o clone? – para eliminá-lo.

A referência imediata é o clássico conto do outro, tão bem explorado no recente O Homem Duplicado (2013) – ou de forma menos feliz no igualmente recém visto O Duplo (2013). Estes dois títulos, no entanto, partiam de um conceito bastante familiar para discutir questões mais profundas, como a dualidade da personalidade humana e quão conflituosa pode ser a estrutura psicológica do ser humano. Um Homem Só, no entanto, prefere estabelecer seu discurso no raso, resignando-se em explorar efeitos visuais nada surpreendentes e situações que deveriam propor um maior dinamismo à trama, mas tudo que conseguem é se repetir sem criatividade. Há ainda um debate entre qual seria a identidade válida do protagonista, se o original ou sua cópia, e até que ponto a liberdade está em assumir a responsabilidade dos seus atos ou em simplesmente deixar para trás laços mal feitos para seguir em frente apostando em novos caminhos. Possibilidades que são apontadas, mas nunca desenvolvidas com cuidado.

Vladimir Brichta tem investido cada vez mais em sua carreira cinematográfica, e mesmo que apareça aqui em duas versões, elas pouco diferem entre si. Assim, é fácil prever que esse filme dificilmente será lembrado como um dos pontos altos de sua filmografia. Produção nitidamente comercial, carrega em si muitos dos maniqueísmos televisivos da diretora e roteirista Claudia Jouvin (que vem de séries como A Grande Família, 2013). Mariana Ximenes, bela em uma composição ruiva inédita, mantém o carisma habitual, mas pouco tem a acrescentar à trama. Falta ao longa uma visão segura, que saiba o que perseguir – o que começa como drama, logo escorrega na comédia, para terminar como um thriller policial – e que deixe de lado elementos desnecessários – a tia vivida por Eliane Giardini, em participação que nunca chega a obter a importância merecida, ou o próprio cachorro, que só entra em cena para morrer logo em seguida, como uma desculpa mal elaborada. E entre desencontros óbvios e soluções clichês, Um Homem Só decepciona em mais de um nível de leitura, sem justificar a curiosidade levantada pela proposta inusitada que apresenta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Edu Fernandes
7
MÉDIA
5.5

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