Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Gato de vida dupla, Dino vive durante o dia com Zoe e à noite trabalha com um assaltante famoso. Todavia, depois de assaltar uma célebre coleção de joias, ele passa a ser alvo da polícia que o segue pelas sombras de Paris.

Crítica

O mercado cinematográfico dedicado às animações não é dos mais democráticos, definitivamente. Quase 100% dos filmes exibidos nos cinemas brasileiros são hollywoodianos, com raríssimas exceções. Por isso a alegria e a curiosidade em relação a esse Um Gato em Paris, uma produção francesa que foi um sucesso de bilheteria no seu país de origem. E mais: trata-se de um desenho animado convencional, quase sem diálogos, bem distante da verborragia e das invencionices digitais tão comuns na produção atual. Interesse que, uma vez despertado, não será desapontado na sala escura do cinema.

Pra começo de conversa, Um Gato em Paris não é  a opção mais segura para crianças – o público principal é o adulto. Claro que há elementos infantis que irão encantar os pequenos – não se pode descartar de forma radical uma fatia tão expressiva de espectadores – mas não é a eles que a trama se dirige. Afinal, o gato do título é como Arlequino, o servidor de dois patrões: se durante o dia vive para se aninhar e receber carinhos da pequena Zoe, durante à noite se esgueira pela janela e vai encontrar Nico, um ladrão especializado em proezas inacreditáveis. De inofensivo animal de estimação a parceiro no crime, em questão de instantes. Assim é o dia a dia de Dino, o gato, entre dois mundos aparentemente distantes. Uma calmaria com data certa para acabar.

O cruzamento entre estes dois universos opostos se dá pela mãe de Zoe, Jeanne, uma delegada de polícia encarregada de investigar esses misteriosos assaltos que estão deixando Paris em pânico. Tudo piora quando o gangster Costa entra no jogo, aumentando a tensão e o perigo. Afinal, ele quer saber quem é esse profissional solitário que está estragando seus planos, ao mesmo tempo em que está sob a mira da policial, pois é o principal suspeito da morte do marido dela. Um enredo intrincado e dignos das novelas mais escabrosas, repleto de reviravoltas e verdades de duplo sentido, em que ninguém é o que parece ser e em que todos são culpados – ao menos até que se prove o contrário!

O clima sombrio de suspense noir se dissipa somente diante o nosso protagonista, um gato cheio de artimanhas, e dos interesses que estão por trás dos seus feitos: ele quer apenas o melhor destes dois mundos, a adrenalina e aventura da noite combinadas com a tranquilidade e o conforto do dia. O final, nas alturas da Catedral de Notre Dame, entre gárgulas e vertigens, é de causar arrepios – e de provocar constrangimentos na recente versão de Os Três Mosqueteiros, cujo clímax se passa no mesmo cenário, porém com um resultado muito aquém.

Um Gato em Paris é o longa de estreia da dupla Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol, baseado num argumento deste último. Entre a equipe de dubladores originais, destaque para a presença de Dominique Blanc, de A Rainha Margot (1994) e Indochina (1992). Tendo faturado mais de um milhão de euros das bilheterias francesas, é um ótimo exemplo de como uma boa ideia, associada a uma equipe técnica competente sob o comando de realizadores criativos e originais, pode transformar algo que até pouco tempo estava considerado ultrapassado em um produto rico e encantador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
8
Chico Fireman
7
MÉDIA
7.5

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