Crítica

Existe lugar mais romântico do que Paris para reacender a chama de um relacionamento? Era isto que apostava Nick (Jim Broadbent) ao convidar sua esposa Meg (Lindsay Duncan) para uma viagem à França. No entanto, o afastamento dos dois é tão grande que aquele passeio pode significar o fim daquele casamento de uma vez por todas. Ressentimento, isolamento, falta de respeito e tantos outros sentimentos venenosos para um relacionamento saudável podem ser facilmente detectados naqueles breves, porém potentes, minutos que passamos com aquele casal britânico. Esse é Um Fim de Semana em Paris, filme mais sério que o habitual do diretor do simpático Um Lugar Chamado Notting Hill (1999), Roger Michell.

O roteiro é de Hanif Kureish, que já havia trabalhado anteriormente com o diretor na minissérie The Budha of Suburbia (1993) e em Venus (2006), longa que rendeu a Peter O’Toole sua última indicação ao Oscar. Em Um Fim de Semana em Paris, Kureish conta uma história que poderia muito bem servir como capítulo final para a série de Jesse e Celine, casal protagonista da trilogia Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013), dirigidos por Richard Linklater. Não existem semelhanças apenas no cenário, visto que o longa-metragem é rodado em Paris. As cenas soltas, com o ritmo dado pelas performances dos atores, e os diálogos longos e cheios de sentimento, com o espectador testemunhando uma franca e por vezes doída discussão de relacionamento, são pontos suficientes para fazermos a ligação entre estas produções. Caso Linklater não queira continuar a série e construir um réquiem para o casal na velhice, daqui uns 18 anos, já temos um potencial substituto neste filme.

A grande força de Um Fim de Semana em Paris é a interação entre Jim Broadbent e Lindsey Duncan. É possível perceber que já existiu algum sentimento ali, mas que ele não consegue se sobressair em meio ao mar de rancor que existe entre os dois. Ela é fechada sexualmente, uma pessoa de humor inconstante (tripolar, como ela afirma) e de pavio curto. Ele é pouquíssimo confiante, alguém que foi perdendo com o passar do tempo qualquer tipo de ambição, mantendo-se acomodado além da conta. Meg enxerga isso em seu marido e despreza esta condição. Além de tudo, infidelidades do passado não ajudam em nada neste momento, sendo relembradas em pontos cruciais da história. A aparição de um antigo pupilo de Nick, Morgan (Jeff Goldblum), um sujeito grudento e muito bem sucedido, também atrapalha o casal nesta viagem de reconciliação.

O esperado ao assistirmos a uma produção com um casal mais velho como protagonista é observarmos pessoas mais maduras, com experiência, sabendo as respostas das grandes questões da vida por conta de sua trajetória longeva. E o mais interessante em Um Fim de Semana em Paris é o fato de Nick e Meg serem completamente imaturos em diversos momentos, mostrando que, no final das contas, somos todos um tanto perdidos, pouco importando a idade mais avançada. As cenas íntimas entre o casal são prova disso. Jeff Goldblum é uma feliz adição ao elenco, colocando mais lenha na fogueira daquele relacionamento. Seu personagem é um homem que precisa ser amado de qualquer forma e sua falta de jeito com a rejeição é interessante – ainda mais depois de termos acompanhado diversas modalidades de rejeição entre o nosso casal principal.

Um dos poucos problemas do longa-metragem é a narrativa que, por vezes, fica um tanto à deriva. Assim como os atores, o roteiro parece solto demais. Roger Michell poderia ter amarrado melhor algumas situações, não jogando algumas sequências a esmo – como a conversa entre Broadbent e o jovem Michael (Olly Alexander), filho de Morgan.

Com citação ao clássico Bando à Parte, de Jean-Luc Gordard, com uma divertida e sentimental cena de dança, Um Fim de Semana em Paris foi realizado como uma grande reflexão a respeito de relacionamentos, não sendo necessariamente feliz ou colocando o espectador a se sentir bem ao final da sessão – muito menos durante. Por ter esta carga dramática interessante, contar com dois atores veteranos em plena forma e com um enredo que jorra verossimilhança, o longa-metragem de Roger Michell acaba sendo um programa altamente recomendável.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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