Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Bob é um nerd que, após sofrer bullying em sua época de escola, se transforma em um grande e perigoso agente da CIA. Chamado pelo Governo para recuperar o programa de espiões dos Estados Unidos, decide procurar por Calvin, um dos antigos colegas de escola que acabou se tornando um comum contador. Mas, antes do mesmo perceber no que ele está se metendo, o velho amigo o arrasta para um mundo cheio de ação com tiroteios, espionagem e traição, que poderá colocá-los em perigo de muitas maneiras.

Crítica

O ambiente escolar secundarista pode ser um bocado opressor. Isso é algo que Robert (Dwayne Johnson) sente na pele quando lançado completamente nu no centro do ginásio lotado de colegas que riem de sua vergonha. Calvin Joyner (Kevin Hart), considerado aluno modelo, líder em todas as atividades curriculares, em suma, o mais popular, é o único que se apieda de sua dor, ajudando-o nesse momento em que os demais só querem zoar. Vinte anos depois, as expectativas de um futuro brilhante não se confirmam e Calvin está frustrado no emprego de contador, até que o agora marombado Bob retoma contato, abrindo caminho para uma aventura de espionagem que pode determinar os rumos da segurança dos Estados Unidos. Um Espião e Meio é uma brincadeira que alude aos filmes protagonizados por duplas de policiais/espiões, em que as fragilidades de um são compensadas pelas potencialidades do outro, resultando num time imbatível contra o crime.

Embora divertir seja o objetivo evidente de Um Espião e Meio, há alguns instantes de mau gosto que contrariam até mesmo as mais pueris intenções de entretenimento, vide a sequência da desonra, na qual Bob é exposto na frente de todo mundo. O rosto de Dwayne Johnson é inserido digitalmente num corpo obeso, condição física, aliás, que motiva a chacota dos alunos. O recurso tosco traz consigo o ridículo, algo que, felizmente, é reduzido dali em diante, já que ao foco passa a ser a inadequação de Calvin na nova realidade que ele é forçado a viver como espião. O entrosamento desses parceiros improváveis se configura na força vital do filme, naquilo que ele tem de melhor. Em meio a dificuldades matrimoniais, muito decorrentes da insatisfação com os rumos de sua vida pós-colegial, o personagem de Kevin Hart tem de se acostumar rapidamente com a rotina singular dos agentes, oferecendo um contraponto funcional à ingenuidade tão bem transmitida por Johnson.

A intriga de espionagem propriamente dita é apenas um fiapo, decalque propositalmente genérico. O componente financeiro da busca por códigos ultrassecretos de satélites é uma desculpa para inserir as habilidades contábeis de Calvin na trama. Um Espião e Meio nada no raso, não demonstrando qualquer vontade de aprofunda-se nos temas dos quais se vale, como, por exemplo, o bullying, aqui combustível de uma mensagem edificante que espeita a ação e os relacionamentos estabelecidos. O aluno constantemente humilhado no passado retorna ao cenário como um homem forte, destemido e repleto de habilidades invejáveis. Já aquele celebrado no ensino médio como predestinado ao sucesso, seja em que área for, tem um cotidiano ordinário. No fim das contas, ambos vencerão, pois juntos, compensando as debilidades alheias e, principalmente, aceitando suas essências. A falta de espessura dramática está alinhada com essa busca por reforçar lições a todo custo.

De bastante positivo em Um Espião e Meio, tem-se as interpretações de Dwayne Johnson e Kevin Hart. O primeiro está muito à vontade na pele do grandalhão com alma adolescente, que festeja a amizade retomada, mesmo enquanto alvo de uma saraivada de balas ou durante perseguições de automóvel. O segundo é responsável por boa parte da comicidade, já que encarna com desenvoltura a desorientação de seu personagem diante de ameaças até então somente familiares a ele nos filmes. Aliás, a realização do diretor Rawson Marshall Thurber se reporta constantemente a determinados longas oitentistas ambientados em escolas e/ou protagonizados por adolescentes, como Gatinhas e Gatões (1984), evocando, assim, a cumplicidade do público familiarizado cinematograficamente com a época mencionada. Nada demais, assim como o restante nesta comédia superficial, nem de longe memorável, mas que diverte ocasionalmente, muito por conta da interação afiada dos protagonistas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
4
Thomas Boeira
5
MÉDIA
4.5

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