Crítica

Apesar do título original ser o mesmo, The Last Kiss, versão norte-americana do italiano L'ultimo Bacio (2001), chega ao Brasil rebatizado como Um Beijo a Mais. Até melhor, para que o público não o confunda com o infinitamente superior O Último Beijo (2001), de Gabrielle Muccino, produtor desta nova versão e que, posteriormente, estreou em Hollywood dirigindo o meloso À Procura Da Felicidade (2006), com Will Smith. A impressão que passa é que Muccino pensou: "querem me pagar uma grana para estragar um filme que já está bom? Ok, aceito, fico com o dinheiro!" Isso, sem se preocupar com o dano na imagem do filme original que esta refilmagem poderia causar. Porém, com o fracasso de público e de crítica da obra de Tony Goldwin (Alguém Como Você, 2001), é pouco provável que tal coisa venha a acontecer.

Se Goldwin é mais conhecido pelo seu trabalho como ator em Ghost (1990), outros nomes chamam atenção em Um Beijo a Mais. A começar pelo protagonista, Zach Braff, estrela da divertida série Scrubs e que recentemente estreou na direção com o ótimo Hora de Voltar (2004). Apesar do bom currículo, ele transforma a desorientação do personagem em apatia, fazendo da missão de ser atraente ao espectador uma tarefa inglória. Mas triste mesmo é ver o roteirista Paul Haggis, de Menina de Ouro (2004) e A Conquista da Honra (2006) e também diretor do oscarizado Crash - No Limite (2004), envolvido num material que resultou em algo tão pobre e simplório. O texto dele fez de uma trama tão interessante e com diferentes níveis de leitura em algo linear, desinteressante e bastante convencional.

Michael (Braff) é um cara que fez 30 anos há pouco. Ele acredita estar numa encruzilhada na vida, num ponto de decisão. Tem um bom emprego, namora uma boa garota. Mas não pode mais adiar decisões, compromissos. Já é adulto, e como tal deve começar a agir. E onde está a coragem para isso? A noiva está grávida e quer casar, os amigos já têm filhos, estão todos se assumindo, com casas e futuros sendo construídos. Indeciso entre seguir em frente e, ao mesmo tempo, sem poder voltar atrás, encontra uma porta alternativa quando passa a ser assediado por uma menina desconhecida. Jovem, universitária ainda. De forma bastante imatura, resolve aceitar um convite para sair com ela. "Uma última noite de loucuras", pensa. Mas nem tudo será tão simples assim, pois cada decisão que tomamos implica em várias conseqüências, nas vidas de todos aqueles ao nosso redor.

Enquanto que O Último Beijo (2001) se propunha ser um estudo sobre a identidade masculina e as dificuldades que os homens enfrentam no processo de maturidade, de encarar uma postura perante a família e outra com os amigos, fidelidade e relacionamentos amoroso, Um Beijo a Mais quer somente ser uma comédia romântica vazia e despretensiosa. Nem a presença de atores tarimbados, como Blythe Danner (Entrando Numa Fria, 2000) e Tom Wilkinson (Entre Quatro Paredes, 2001) se salva neste desastre anunciado. Sem graça, previsível e nada inspirado, o filme se perde no meio da mediocridade característica da indústria hollywoodiana, desprovido de maiores interesses e/ou méritos. Melhor ignorar.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *