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Sinopse

Jovens apaixonados, Charlotte e Micha compram uma casa onde pretendem ser felizes para sempre. No entanto, alguns meses depois, uma infidelidade será apenas a ponta do iceberg da insatisfação matrimonial.

Crítica

Mélodie ama Charlotte, que é casada com Micha, que se apaixona por... Mélodie. Curiosamente, isso é tudo o que acontece em A Três Vamos Lá, filme que se anuncia como polêmico e controverso, porém, à medida que sua ação vai se desenrolando, revela-se não mais revolucionário do que a maioria das comédias românticas que regularmente vemos por aí. Isso, no entanto, não significa necessariamente que seu resultado seja ruim: apenas não é aquilo que a maioria pode estar esperando.

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Logo nas primeiras cenas Mélodie vai ao encontro de Charlotte, porém ao chegar na casa dessa quem abre a porta é Micha, o marido. Para ele, as duas são apenas melhores amigas, e é por causa dessa proximidade – e suposta (porém infundada) imparcialidade – que ele decide desabar sobre ela suas frustrações. A esposa está cada vez mais ausente, distante, fria, e ele não sabe o que fazer. Não imagina, portanto, que talvez a origem dos seus problemas seja justamente aquela ali na sua frente. A quem, aliás, num primeiro momento em busca de um instante de carinho, encontra uma excitação que vai além de uma carência momentânea. Há reciprocidade no contato, e sem saber ao certo como agir, decide ir atrás de quem parece estar minimamente nele interessado.

Percebe-se uma grande confusão nos três protagonistas de A Três Vamos Lá. Nenhum deles parece saber ao certo o que quer ou busca para si e para aqueles que estão ao seu lado. Definições sexuais inexistem – e são tão desnecessárias que, na única passagem em que são verbalizadas, é num ato vexatório e de repúdio muito mais a quem profere do que a quem tal expressão indica. Essa aparente desorientação, no entanto, se desenvolve melhor dramaticamente quando interna, como nos supostos paralelos entre a vida privada e profissional de Mélodie, do que quando encenada de forma física, como na sequência em que ele chega mais cedo em casa e quase as pega juntas, em um entra e sai de portas e janelas que beira o pastelão.

Defendida por três destaques da nova geração de atores franceses, A Três Vamos Lá depende muito da empatia que alcança com o espectador a partir dos esforços conjuntos de cada um deles. Félix Moati tem aqui sua melhor oportunidade desde Anos Incríveis (2012), funcionando bem tanto como o macho alfa da relação como o tolo enganado por ambas as mulheres. Já Anaïs Demoustier (Uma Nova Amiga, 2014), vai além da coadjuvante simpática que vinha marcando sua carreira até então, respondendo pela personagem mais bem construída e profunda, contando para isso estar à altura das oportunidades que o roteiro lhe oferece. Já Sophie Verbeeck, a menos conhecida do trio, é aproveitada justamente na posição mais enigmática. Isso funciona até uma certa medida, mas é incapaz de evitar uma sensação estranha diante de um final apressado e insuficiente ao que até então se desenhava.

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Atraente sem ser ousado – as cenas de sexo, raras, são quase pudicas (ainda que haja um seio aqui e um vislumbre de um pênis acolá), principalmente por se tratar de uma produção europeia – e envolvente sem ser necessariamente marcante, A Três Vamos Lá parece ter preguiça de abraçar todos os dramas pelos quais chega a se arriscar. A complicada situação do chefe de Mélodie ou os conflitos pessoais de Charlotte, por exemplo, são apenas esboçados, mas nunca levados devidamente à sério, ao menos até que seja tarde demais. Assim, temos um filme que consegue ser no máximo curioso, sem nunca, infelizmente, ir além desse ponto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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