Crítica


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Sinopse

Contratada por uma ricaça para encontrar seu herdeiro, uma falsa médium começa a procurar o rapaz em São Francisco. Na companhia do namorado taxista, ela não imaginava que se depararia com um trambiqueiro.

Crítica

O que acontece quando o célebre Alfred Hitchcock, após ter dirigido clássicos como Janela Indiscreta (1954), Um Corpo Que Cai (1958) e Psicose (1960), resolve misturar seu tradicional suspense com comédia quase pastelão? A resposta é algo bem parecido com Trama Macabra, último longa dirigido pelo diretor, em 1976. O filme conta de forma divertida a história de dois casais trambiqueiros. De um lado, estão Blanche (Barbra Harris) e George (Bruce Dern). Ela, uma médium de araque. Ele, um taxista que jura ser ator. Do outro, estão Fran (Karen Black) e  Arthur (William Devane). Profissionais na arte do trambique, roubam diamantes e sequestram pessoas.

Quando Blanche descobre que uma de suas clientes ricas tem um filho perdido, decide, junto com o marido, "trazê-lo de volta" em troca de uma pequena fortuna. O que eles não esperavam é cruzar o caminho de Arthur e Fran.  O que resulta numa confusão: a trama do filme. Embora o título em português traga "macabra", o clima geral se distancia, e muito, do Hitchcock usual. Há a médium, é claro, mas sua figura como charlatã é muito mais cômica do que sobrenatural. O mesmo vale para o casal de sequestradores que, entre disfarces e caras e bocas, lembram mais os vilões tarantinescos do que Bonnie e Clyde, uma óbvia inspiração.

Entre mortes forjadas e até o sequestro de um bispo em plena missa, o diretor estrutura seu filme em forma de montagem paralela, fluindo organicamente de um casal para o outro e conseguindo que o interesse se prenda à trama como um todo. No entanto, ao contrário do suspense, sua comédia parece meio datada, soando às vezes pastelão, às vezes naive. De qualquer forma, o glamour e a pompa típicos do diretor, bem como sua teatralidade, marcam presença e engrandecem o longa.

Se a primeira hora soa um tanto descritiva - muitos personagens e situações a serem apresentadas -, a segunda se desenrola rapidamente, com uma sucessão de fatos e resoluções que faria inveja a qualquer diretor de ação. O roteiro tem uma característica curiosa. É tamanha a confusão em que os personagens se metem para conseguir dinheiro que, por vezes, parecem não constatar o óbvio: seu trabalho cotidiano seria uma forma muito mais fácil de conseguir a mesma coisa. No entanto, a licença poética de aceitar que eles escolham o caminho mais difícil contribui para o tom cômico que permeia a obra.

O elenco está inspirado e compra bem a proposta do roteiro, transmitindo suspense e comédia na medida certa, enquanto o design de produção ajuda a criar os ambientes leves e agradáveis ao redor de Los Angeles, dando ao filme a leveza, que é sua maior característica. Esta leveza também é responsável por fazer de Trama Macabra uma obra "atípica" de Hitchcock, por assim dizer.

Longe de ser um dos seus maiores clássicos, o filme funciona como boa diversão de família e entretenimento de qualidade. Como obra cinematográfica, porém, se parece com tantas outras que hoje são vistas em qualquer canal por assinatura no meio da tarde, de forma que o longa deve agradar muito mais os fãs completistas do diretor do que o típico cinéfilo interessado em sua obra.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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