Crítica


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Crítica

O diretor Pedro Coutinho tem uma iniciativa louvável com Todas as Razões Para Esquecer: se debruçar sobre um gênero tão desgastado como a comédia romântica. Ainda mais no Brasil, onde boa parte dos títulos se resume a besteiróis sem sentido – salvo um lá que outro, como Divórcio, bela surpresa lançada em 2017. Não que este filme siga a senda da originalidade, pelo contrário. Porém, ao centrar a ação na figura de um jovem adulto de cerca de 30 anos, o cineasta olha com carinho para a geração Y, aquela tão discutida nos últimos anos e que sofre com males tais como a depressão. O mundo foi prometido a eles quando crianças. Porém, a idade adulta chega para todos e é muito mais cruel do que se imagina. Especialmente quando um relacionamento amoroso termina. Ponto de partida para a história aqui contada.

Antônio (Johnny Massaro) é o nosso anti-herói que vai perceber a via crúcis do fim de seu namoro de anos, muito tempo depois do que parecia inicialmente. Ele levou um belo pé na bunda de Sofia (Bianca Comparato) por algo bem simples, mas que foi desgastando o relacionamento com o passar do tempo: a dificuldade do rapaz para se abrir. Após sair do apartamento em que o casal vivia, o jovem vai para a casa da prima, Carla (Maria Laura Nogueira), que também está em crise no casamento. Enquanto o rapaz vai perdendo cada vez mais o interesse pelo trabalho, pela rotina e pelas pessoas, vários personagens com potencial giram em seu entorno: outro amigo, que resolveu largar o emprego, o vizinho gay com quem se abre e a terapeuta (Regina Braga), que tem um arco interessante até chegar a um momento constrangedor (e desnecessário) mais para o fim do filme. Porém, a dúvida que fica é: ele quer Sofia de volta ou não?

É um questionamento necessário, feito lá pelas tantas, quando o rapaz vivencia a pior fase do luto de um relacionamento: a negação. Travado, Antônio marca um encontro com a ex para tentar esclarecer os sentimentos, mas sua incapacidade de comunicação acaba criando uma situação ainda mais difícil para essa relação em pedaços. O protagonista é um legítimo produto da sociedade machista – o que torna mais louvável a forma irônica com que Pedro Coutinho lida com seu personagem. Na cabeça de Antônio, discutir relacionamentos, sentimentos e afins não é algo necessário. Sua interação com os outros se limita a meia dúzia de palavras sarcásticas, algo que contrasta com o constante falatório de Carla, ligada em 220 volts, cujas falas realmente ditam a complexidade de como uma relação (ou seu quase fim) mexe com as nossas mentes.

Coutinho utiliza a comunicação por smartphones como um dos principais artifícios para contar a história, utilizando mensagens de texto, Facebook e Tinder na condição de efeitos de tela, especialmente quando o protagonista está em seu apartamento. É lá que boa parte da ação de Todas as Razões Para Esquecer acontece, pois é quando Antônio está sozinho, imerso em seus pensamentos e, inquestionavelmente, em confronto com si. É deitado no escuro que o rapaz consegue chorar. Ou melhor, sentir a falta de Sofia e do quanto a relação lhe fazia bem, mesmo que ele não se desse conta disso. Com uma mescla de referências que vão de Woody Allen a Noah Baumbach, além de outros nomes indies do cinema norte-americano contemporâneo, o filme de Coutinho parece discutir, ainda que de forma leve e até superficial, como o ser humano (por culpa ou com a ajuda das novas tecnologias) se isola cada vez mais em seu mundo, deixando de abrir-se. Inclusive, para um sentimento tão defasado quanto parece ser o amor. Ao menos, nestes tempos modernos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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