Crítica


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Sinopse

Ned e sua família visitam a filha na Universidade de Stanford durante as férias. Superprotetor, ele logo encrenca com o namorado da garota, criando um clima de terror, sobretudo, ao descobrir que ele a pedirá em casamento.

Crítica

Você já viu este filme antes. E o pior: os responsáveis eram os mesmos. John Hamburg foi o roteirista, enquanto Ben Stiller aparecia como protagonista de Entrando Numa Fria (2000), comédia sobre um rapaz que enfrentava diversas provações durante o primeiro fim de semana passado na casa dos seus futuros sogros. A única diferença entre o longa anterior e este Tinha Que Ser Ele? é que os papeis foram invertidos: ao invés do candidato a genro, quem fica desconfortável agora é o possível sogro. No mais, temos as mesmas piadas recicladas, diversas – e previsíveis – situações constrangedoras e um elenco que até se esforça, mas pouco consegue ir além deste tom escrachado de segunda mão.

Bryan Cranston é um grande ator, e não apenas pela indicação ao Oscar que recebeu por Trumbo: Lista Negra (2015) ou pela performance absurda como o icônico Walter White na série Breaking Bad (2008-1013), mas também por sua incrível versatilidade, indo do drama (Argo, 2012) ao blockbuster (Godzilla, 2014) com igual desenvoltura. O que poucos lembram, no entanto, é que um dos seus primeiros papeis de destaque foi como o patriarca da série Malcolm in the Middle (2000-2006), sem mencionar que ele já marcou presença em seriados de sucesso, como Seinfeld (1989-1998) e How I Met your Mother (2005-2014). Ou seja, timing para comédia ele mais do que já provou possuir. O problema, no entanto, que se percebe em Tinha Que Ser Ele? é vê-lo refém deste humor despudorado e escrachado, enfim, nada refinado, de James Franco e sua turma (Jonah Hill, outro da mesma gangue, é um dos co-roteiristas). E este ‘casamento’ resultou em algo estranho, sem resquícios de inteligência, indeciso entre o ousado agressivo e o cômico familiar.

Para começar, durante uma vídeoconferência com a própria filha durante o seu jantar de aniversário, em que se encontra cercado de familiares e amigos, Ned Fleming (Cranston) acaba se confrontando com os pelos púbicos e com uma visão em close da bunda do atual namorado da garota. Sem saber ao certo como lidar com a notícia do envolvimento, ele, a mulher (Megan Mullally) e o filho caçula, Scotty (Griffin Gluck) decidem visitar a garota. Porém, ao invés de ficarem hospedados em um hotel, como haviam planejado, são levados por ela a passar o fim de semana na casa do rapaz, Laird Mayhew (James Franco), um milionário da internet que investe em apps e jogos de videogame. O ambiente totalmente controlado pela tecnologia e o jeito despudorado (entenda-se, sem camisa e com muitos palavrões em cada diálogo) do jovem logo entram em confronto com o possível sogro. E é justamente nestes contrastes que o diretor Hamburg aposta todas as suas fracas tentativas de humor.

Em uma passagem por um vaso sanitário desprovido de papel higiênico (é impressionante o que fazem para arrancar alguma graça do uso da ducha íntima) e um alce mantido submerso num aquário cheio da urina do animal (que, obviamente, em algum momento irá arrebentar para dar um banho em todos os presentes), há ainda citações embaraçosas, como o criado que tenta surpreender o dono do lugar com ataques violentos a todo instante (“Filmes da Pantera Cor-de-Rosa? Nunca ouvi falar!”) e chistes a respeito da gastronomia contemporânea (o jantar servido é de barro comestível, papel digestível e espuma do oceano). Nada que já não tenha sido feito antes, não apenas na referência mais óbvia, mas também em tantos outros genéricos similares.

Tinha Que Ser Ele?, no entanto, não chega a ser um completo desastre. Muito disso se deve, é preciso reconhecer, aos pontos altos do elenco. Cranston tenta ao máximo se defender como o patriarca ranzinza à beira da falência lutando para proteger sua família dessa ‘ameaça’ modernosa, enquanto Franco se encaixa à perfeição neste tipo de personagem (é de se perguntar, no entanto, se ele ainda é capaz de fazer algo diferente... mas isso é assunto para outro momento). Mullally, na sequência chapada e excitada, também garante algumas boas risadas. Mas nada à altura do que um conjunto como esse poderia apresentar diante o cenário levantado. Fica-se, no fim, com a impressão de algo passageiro, que nem mesmo com uma luta entre os dois protagonistas, um mordendo as bolas do outro, chega a ser ofensivo, pois é simplesmente indiferente, sem oferecer nada além do esperado: previsível, rasteiro e banal. E nada pode ser pior para dois comprovados talentos do que estarem em algo tão descartável e preocupado apenas em reciclar velhos e já gastos argumentos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Alysson Oliveira
3
MÉDIA
3.5

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