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Sinopse

Tim Maia, da infância no Rio de Janeiro até a morte, aos 55 anos de idade, passou pelos Estados Unidos, onde o cantor descobriu novos estilos musicais e foi preso por roubo e posse de drogas. Ao sair, voltou ao Brasil e consagrou-se como um dos maiores artistas do país.

Crítica

Depois de Cazuza, Raul Seixas, Wilson Simonal, Zezé di Camargo e Luciano, Paulo Coelho e Renato Russo – apenas para ficarmos nos mais conhecidos e de maior sucesso de público – estava mais do que na hora da conturbada trajetória de Sebastião Rodrigues Maia – ou simplesmente Tim Maia, como o mundo veio a conhecê-lo – chegar às telas de cinema. E é isso que acontece em Tim Maia, longa inspirado na biografia Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta. Para assumir direção, foi chamado alguém com experiência no assunto: Mauro Lima, o mesmo de Meu Nome Não é Johnny (2008), cinebiografia que levou mais de dois milhões de brasileiros aos cinemas. Os elementos certos, portanto, estão nos lugares esperados. A mistura, no entanto, é que carece de uma liga mais forte.

O roteiro, escrito pelo cineasta em parceria com Antônia Pellegrino (Bruna Surfistinha, 2011), se preocupou em cobrir o maior espaço de tempo da vida do protagonista. Ou seja, tenta-se falar de tudo, mas como o tempo é escasso – ainda que o filme tenha mais de duas horas de duração – a maior parte dos momentos acabam se resumindo a registros superficiais, além de invocarem uma irritante, e desnecessária, narração auto-explicativa. Falta profundidade, por exemplo, ao ilustrar a pobreza familiar na infância, o impacto do falecimento do pai durante sua adolescência, os primeiros bicos profissionais, a relação que mantinha com os amigos que dividiam o mesmo sonho – como Roberto e Erasmo Carlos – e os poucos romances. A preocupação que se percebe é a de deixar em evidência duas características marcantes da personalidade do biografado: sua genialidade musical e seu temperamento instável. O que, é preciso concordar, de fato acontece.

Ainda que a narrativa não seja tão problemática quanto a do recente Não Pare na Pista (2014), o maior acerto de Tim Maia foi a escolha de dois atores em pleno domínio de suas habilidades para interpretarem o personagem principal. O jovem Robson Nunes é responsável pela juventude e primeiros sucessos, enquanto que Babu Santana assume o papel durante a consagração e decadência. Tanto Robson quanto Babu são profissionais experientes, ambos com currículos invejáveis no cinema nacional, já tendo ambos trabalhado com realizadores experientes e presentes em sucessos de público e de crítica. Porém é aqui que encontraram a primeira oportunidade como protagonistas, e a agarram com unhas e dentes, atendendo à responsabilidade depositada com segurança e muita habilidade, em desempenhos dignos de aplausos. Nenhum dos dois parece querer simplesmente copiar o outro ou em desempenhar um jogo de mímica em relação ao artista ilustrado. E talvez seja justamente por isso, por apostarem em suas próprias vozes, que o registro que conduzem seja tão confiante e acertado.

Mauro Lima faz de Tim Maia um filme correto, porém sem coração. Está tudo lá, mas a sensação que fica é de que a soma dos fatores é menor do que cada um deles em separado. As canções mais famosas, as grandes brigas, os desentendimentos, os vícios, o fanatismo religioso, as viagens pelo exterior, os amigos e inimigos são apresentados de forma episódica, quase novelesca. Cauã Reymond e Alinne Moraes, os dois nomes mais conhecidos do elenco, aparecem quase como distrações, uma que vez que o show é mesmo dos dois responsáveis por trazerem o Síndico de volta à vida. E isso eles conseguem, ainda que por instantes, em um longa protocolar que tem algumas passagens interessantes e funciona à contento enquanto curiosidade, mas que inegavelmente está aquém tanto do talento do homenageado quanto dos próprios envolvidos em sua realização.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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