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Sinopse

O que parecia improvável acontece: um erro no Mumbai Dabbawallahs, o serviço de entrega de comida mais confiável da Índia. No entanto, ele permite que uma pacata dona de casa conheça um homem que vive os últimos momentos de sua vida.

Crítica

A Índia exótica com a qual nos acostumamos por conta não apenas do olhar estrangeiro em produções que saturam as particularidades do país, mas também pelas realizações locais, que fazem questão de seguir, de maneira semelhante, um itinerário espalhafatoso para se autorretratar, certamente não está presente em The Lunchbox, comédia romântica escrita e dirigida por Ritesh Batra. Desde as primeiras tomadas, imagens de trens lotados que despejam ondas de gente de estação em estação, fica clara a intenção de pintar o cenário e as relações com tintas menos berrantes, justamente para chamar a atenção à trama que se desenvolve, partindo de um registro visual sóbrio, mas nem por isso menos importante.

Um erro improvável do Mumbai Dabbawallahs, o conhecido serviço de entrega de comida da capital, serve de ignição à história de The Lunchbox, pois aproxima, mesmo que à distância, Saajan Fernandes (Irrfan Khan), funcionário público às voltas com sua aposentadoria iminente, e a jovem Ila (Nimrat Kaur), uma vez que a marmita destinada ao marido dela é entregue por engano na mesa dele. O mal-entendido dá origem à correspondência entre os dois, cartas em princípio sobre os ingredientes, o sabor dos alimentos, mas gradativamente enriquecidas por detalhes pessoais. Em pouco tempo um vínculo é criado, bom para ela, que desconfia da infidelidade do marido, e na mesma medida para ele, empolgado com o contato que o tira levemente de sua solidão cotidiana.

Ainda que no geral não fuja de certas convenções do gênero ao qual se filia, The Lunchbox é um filme cuja personalidade se vê em detalhes muito particulares, em certas ideias aparentemente pequenas, mas responsáveis por enriquecê-lo. Uma delas é a tia de Ila, figura imprescindível, algo como mentora culinária e sentimental da sobrinha, mas que nunca aparece fisicamente em cena. É uma presença extracampo forte. A outra é o personagem Shaikh (Nawazuddin Siddiqui), o, de início, mala sem alça que segue o protagonista com insistência, pois precisa de treinamento para assumir seu lugar. Ao passo que a chatice de Shaikh vai sendo relativizada, tanto pela diminuição da resistência do mentor quanto pela observação cotidiana, percebemos o quão sua presença é importante para o desenrolar da trama.

Mesmo que o desfecho soe um tanto previsível – mas, interessante, isso não se aplicando caso tenhamos na cabeça a tradição do filme romântico indiano – a história da amizade, e por que não, do amor nascido entre Saajan e Ila se dá no cruzamento de duas vidas burocráticas à espera de algo que lhes tire da inércia. O cineasta Ritesh Batra merece elogios por conduzir o filme num registro de sobriedade que certamente faz bem à cinematografia indiana, pois ajuda e esmorecer a tipificação, a ideia errada de que qualquer realização local precisa necessariamente de um número musical e redentor para unir o casal protagonista no seu término.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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