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Sinopse

Moradora da São Francisco de 1970, Minnie é uma adolescente que registra seu cotidiano por meio de um pequeno gravador. Ela fica confusa ao fazer sexo com o namorado de sua mãe.

Crítica

O filão de produções que buscam tratar de amadurecimento e da transição da juventude para a idade adulta é regular em Hollywood e, muitas vezes, tende ao clichê, existindo até mesmo um termo para esses filmes: "coming of age". O Diário de uma Adolescente se encaixa nesse subgênero, porém é realizado sem aquela ingenuidade comum às produções do tipo. O mérito é da direção desempenhada com muita maestria pela novata Marielle Heller.

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Baseado na mistura de livro e graphic novel semiautobiográfica de Phoebe Gloeckner, o filme trata da história da precoce Minnie (Bel Powley) que começa um relacionamento com seu padrasto, o sensual Monroe (Alexander Skarsgård). Com o sonho de ser ilustradora, Heller constrói um mundo dinâmico para sua protagonista. Animações invadem a tela dando um tom surrealista para questionamentos pertinentes de uma personagem inesquecível. Tudo muito bem ambientado nos anos 1970, com direção de arte e figurinos impecáveis.

Com uma excepcional falta de pudor, Heller nos guia por esse universo da descobertas sexuais de Minnie em diálogos honestos. Minnie conversa com o público através de uma narração retirada das gravações que a garota faz sobre a sua relação com Monroe e seus questionamentos pertinentes a qualquer jovem. Com isso, existe espaço para as drogas, os conflitos da idade e as complexidades familiares. Tudo embalado por uma ótima trilha sonora que reúne nomes como Nate Heller, Heart, Nico, Television e The Stooges.

Em tom confessional, a produção é um retrato ainda mais importante conforme o cinema busca se adequar às manifestações feministas. Se as mulheres se libertaram de amarras reacionárias durante aqueles anos, hoje se faz necessário revisitar esse tipo de autoafirmação para que se avance além do já estabelecido. E as performances são construídas para reafirmar isso. A mãe de Minnie, interpretada pela sempre ótima Kristen Wiig, é um dos pontos mais interessantes por trazer afirmações sobre a condição sexual feminina. A surpreendente Bel Powley carrega o filme com uma facilidade indescritível e puro carisma. Hipnotizante é um adjetivo que resume bem essa que é uma das melhores atuações da temporada, mesmo que, durante a seleção para as premiações, vá acabar ofuscada por atrizes com mais tempo de carreira.

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O Diário de uma Adolescente é um acerto por desconstruir o enfadonho e socialmente aceitável com uma história que beira o absurdo em diversos momentos. Também se destaca por criar tipos em crescimento e que descobrem a necessidade de conhecerem a si próprios. Com isso, Heller nos ganha pela novidade e inteligência do roteiro. Um verdadeiro deleite para os que estão cansados de caretice no cinema dito “alternativo” norte-americano.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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